Thursday, May 2, 2013

A escora voadora

Como alguns já sabem, trabalho em obras. Pedreirona mesmo, daquelas de usar botas e capacete.

E de vez em quando aparece um e outro acidentado. Um dia foi a placa de zinco que cortou a perna de um servente, no outro foi o carpinteiro que rasgou o braço na bancada de serra porque a roupa dele enganchou não sei onde e ele não conseguiu tirar, outro dia ainda foi o pedreiro que caiu de cima do balancim e se espatifou na bandeja de proteção... Coisinhas básicas assim. Mas não se preocupem, todos eles estão vivos e inteiros. Costurados, mas inteiros.

A sala que eu fico é bem ao lado do prédio que está sendo construído, quase embaixo.

E só para vocês entenderem, a sala é composta por paredes de madeirit e teto de madeirit coberto com telhas de fibrocimento.

E tem uma semana que não para de chover por aqui. Tem lama pra todos os lados, tem poças enormes de água que molham meu pé toda vez que eu tento passar por elas. Tem areia, ferro e brita por todos os lados. E a sala fica no meio de tudo isso. É uma aventura pra chegar e pra sair.

Dai que semana passada estava eu, concentrada, estudando uma norma de mais de 400 páginas, protegida e tranquila dentro da sala enquanto chovia lá fora. De repente apareceu uma goteira no teto. Rapidamente o engenheiro mandou colocar uma folha de zinco entre a telha e o teto de madeirit, porque a goteira estava quase na cabeça dele.

Rapidamente o carpinteiro ajeitou o telhado e parou de pingar. Chegou a hora do almoço e eu fui comer (porque eu morro de fome), quando voltei fiquei sabendo que caiu uma escora de uma altura de mais ou menos 15 metros bem em cima da nossa sala.

Escora, pra quem não sabe, é esse poste metálico que sustenta as formas de uma obra.

O desinfeliz do engenheiro estava lá dentro. A chapa de zinco protegeu o telhado e não deixou a escora atravessar tudo e achatar a cabeça do cidadão.

Essa escora ainda conseguiu quebrar o vidro do caminhão que estava estacionado do lado de trás da sala. Sorte que o motorista não estava lá dentro.

Se eu tivesse chegado 5 minutos mais cedo talvez eu estivesse dentro da sala. E eu teria tido um derrame de susto.

Foi a primeira vez que eu senti medo de trabalhar em obra. E é por falta desse medo que as merdas acabam acontecendo, porque a gente nunca acha que vai acontecer com a gente. Até que acontece!

7 comments:

  1. "Mas não se preocupem, todos eles estão vivos e inteiros. Costurados, mas inteiros." - Continuam inteiros justamente por terem sido costurados...

    Quem diria que uma goteira era um milagre disfarçado?

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  2. Pode começar a agradecer, esse seu anjo da guarda é dos bons! Fiquei arrepiada aqui...

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  3. Meu Deus,mas que perigo,guria!!!!

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  4. Obra é muito perigoso e ninguém fala das estatísticas de acidentes fatais... Eu trabalhava numa empresa de engenharia e os meus colegas engenheiros, arquitetos quando iam às obras, descreviam alguns desses perigos... ainda preferia ficar dentro da minha sala sossegada rs.

    Kisu!

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  5. Como assim cortou a perna???? O cara não tem mais perna???

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