Leticia - 7 anos depois! Linda, né não??
Tres vezes eu disse:
- Isso? Isso eu nao faco NUNCAAAA...
E as tres coisas eram: saltar de para quedas.
Saltei.
Pular de bungee jump.
Pulei.
E assistir a um parto.
E é aqui que essa história começa. Em 2005, em Dubai.
Pois era um fim de semana prolongado na camelandia quando eu resolvi ligar para um casal de amigos para irem jantar conosco no dia seguinte.
A resposta veio um tanto de sopetao:
- Claro. Amanha a gente vai a obstetra e vai pedir para ela induzir o parto. Se der errado, a gente sai pra balada sim!
Ia ser a primeira vez que eu ia sair com alguém "se desse tudo errado".
No
dia seguinte, Depois da tal consulta eu liguei prá eles, na maior esperança de
encontrar meus amigos "filho free" pela ultima vez, mas descubri que a
conversa foi boa e a médica ia tentar expulsar a Leticia da pança da
Adriana no dia seguinte.
Meus planos foram por água abaixo, e numa última tentativa de recuperar um pouco da diversão, eu sugiro:
- Quer companhia no hospital amanhã?
- Precisa não. Quero atrapalhar não. (sim, ela e Recifense)
Entendi a deixa - Adriana queria ficar sozinha com o marido e curtir esse momento a dois. Os ultimos.
Mas nao perdi as esperanças. Quem sabe eles nao mudariam de ideia?
Corri
ao shopping e comprei presente para ela, para a bebezinha, café para o
dia seguinte, caso eu acabasse me enfiando naquele hospital.
Lá pelas dez, recebo uma ligacão, dizendo que eu poderia ir, se eu
quisesse. Que ela nao queria incomodar, mas "até que gostaria" de
companhia. E terminou: E se é prá ter compania, quero é tú!
7 da manha eu já estava no taxi,
com a minha malinha de presentes e os sachets de café - para mim e pro
marido. Afinal, nós íamos precisar ficar acordados!
Como o parto seria induzido, não teve corre-corre, nem grita-grita, nem xilica-xilica.
Foram horas de espera bem agradáveis.
Nós rimos, conversamos, brincamos. Contamos contrações, cronometramos as dita cujas...
E finalmente a dor chegou.
Quando
o bicho pegou e a enfermeira começou a organizar tudo na sala de parto
(anestesia nela, claro), a Adriana ainda teve tempo de me dizer:
- Inaie, pegue la meu batom, por favor.
Peguei
nada. Era o que me faltava. Eu lá, toda descabelada, ansiosa e
emocionada e a mãe penteada e batonzada? Era demais. Batom não. Nem pensar.
Depois
da anestesia Dri caiu no sono e eu e o marido aguentamos o tédio com
firmeza e determinação. Nós e que nao íamos dormir. Tinhamos café para
aguentar dias se necessario fosse.
Não demorou muito e a médica veio me dizer pra ir lá pra sala de parto, ficar com a minha amiga.
Meu
celular estava sem crédito, mas eu nao me atrevi a ir ao boteco (no
andar de baixo) comprar outro cartão, por que o bebê poderia chegar a
"qualquer minuto".
Foram 1080 ao todo.
MIL E OITENTA minutos. 18 horas.
E
eu sentadinha feliz da vida ao lado da futura mamãe que dormia o sono
dos justos - pela ultima vez. Li duas revistas, um livro, assisti TV.
Agora me diz, quem é que dorme em trabalho de parto? Tinha que ser Recifense mesmo! Sossegada...
E finalmente a medica diz:
- Vai la buscar o pai. O bebe vai nascer.
Adriana
tinha tido uma ideia fantastica. Eu ficaria com ela ate o bebe começar a
nascer - ai eu ia buscar o Sergio e sairia da sala (onde só pode ficar
uma pessoa que não esta parindo e não é da equipe).
Chamo o pai, ele entra e eu me sento na salinha de espera e vem a médica, toda esbaforida:
- Vamos, nós vamos ter um bebe!
Eu resisto, esperneio, tento empacar. Ela me arrasta pra sala de parto. Na marra.
Segurei
a mão da Adriana e fiquei lá, firme. Tão firme que eu parecia uma palmeira em dia de tempestade. Meus pés não saim do chão, mas as pernas
tremiam mais que vara verde...
Eu so consegui dizer para a médica: se precisar de alguma coisa é só pedir...desde que eu não tenha que dar NENHUM passo.
Nunca vi peridural contagiosa, mas se as pernas da Adriana estavam paralisadas, as minhas há muito tempo tinham parado de se movimentar.
E ela (de batom - não sei onde ela arrumou um, eu não dei!) sorrindo.
Juro que a minha amiga sorria.
E
depois desatou a rir. Disse que era engraçadissimo me ver branca feito
um papel e o marido escondido atrás da cortina da sala de parto.
E de repente, sem mais nem menos, a medica diz:
- Olha aqui !
- Nao.
- Olha aqui. Agora.
- Nope.
- Olha já aqui que nós vamos ter um bebe !
Achei
que se não obedecesse ia levar um sopapo, entao muito contra todos os
meus principios, dei uma espiadela e vi Leticia chegar a esse mundo.
Tenho que confessar que foi uma das emoções mais fortes que eu ja senti.
Era o milagre da vida, acontecendo ali, na minha frente.
Linda como a mãe (mas sem batom e despenteada como a tia), olhou pra um lado, pro outro e abriu a boca a chorar.
E eu aprendi a minha lição. Nunca mais digo nunca!!!