Friday, November 1, 2013

A testemunha

Dizem no meio jurídico que a testemunha é a prostituta das provas. 
Não sei o que tem a pobre da prostituta a ver com isso, mas o fato é que realmente a testemunha é a pior prova de quem se pode depender. Você nunca sabe que diabos ela vai fazer realmente...

Senta que lá vem história!

Meses atrás uma amiga me procurou, pedindo ajuda para fazer uma defesa trabalhista. O cliente dela era dono de uma lanchonete e estava sendo processado por uma moça que afirmava ter sido demitida por estar grávida. Quando uma mulher é demitida grávida, tem direito a ser reintegrada ao emprego até o quinto mês após o parto ou, na impossibilidade, de ser indenizada pelos valores correspondentes a esse período, o que dá uma fortuna. O patrão dizia que ela que tinha pedido demissão, o que excluiria a condenação. 
Pelas regras da utilização das provas no processo, cabe sempre ao patrão provar que a mulher grávida pediu demissão. A moça em questão não tinha assinado nenhum pedido de demissão. Segundo o cliente da minha amiga, ela simplesmente avisou num fim de tarde que não iria mais trabalhar e nunca mais foi. Apareceu um mês depois dizendo que estava grávida e que queria o emprego de volta.

Explicamos a ele que se ele provasse isso pro juiz iria ganhar o processo, mas que era muito difícil provar. Ele disse que tinha testemunhas. Marcamos várias vezes pra conversar com essas testemunhas, pra perguntar o que elas sabiam e ver se elas eram boas testemunhas (acreditem, nossa intenção nunca foi orientá-las a mentir, porque sabemos que isso é crime e porque sabemos que isso nunca dá certo). 

Ele as levou? Claro que não. Ou melhor, na véspera, apareceu no escritório da minha amiga com três pessoas e já as tinha orientado a mentir. Minha amiga explicou que era muito perigoso aquilo, que o juiz faria muitas perguntas e que se descobrisse que elas estavam mentindo elas sairiam dali presas. Uma das três já desistiu ali mesmo.

Os outros dois resolveram testemunhar, pois diziam que era tudo verdade e que tinham presenciado tudo. 

Chegada a hora de ouvir as testemunhas em audiência, senta o primeiro. Um rapaz muito bonito, mas que anta!!! O cliente da minha amiga disse que ele era gerente da loja e que foi pra ele que a moça pediu demissão, no dia 26/01/2013.

A juíza começou a fazer perguntas pro moço e o que ele disse? Que só trabalhou na loja até 01 de janeiro. Depois disse que trabalhou até depois do carnaval. Depois disse que trabalhou até dezembro de 2012. Depois disse que nem sabia que dia tinha parado de trabalhar na lanchonete. Se confundiu tanto, que nem sabia que cargo tinha na loja: primeiro disse que era cozinheiro, depois que era gerente, faxineiro... Se confundiu tanto, que por fim a juíza estava vermelha de raiva, minha amiga tava vermelha de raiva, a advogada da empregada estava com uma cara de "já ganhei" e eu estava rolando de rir!!! 
Quando acabou a audiência, lá vem o cliente da minha amiga perguntar pra ela - todo animado - se ia ganhar? Ela respondeu um NÃO bem bruto e, de quebra, explicou pra ele os riscos de ficar mentindo: 


Tá, eu confesso, essa última parte não aconteceu. Mas teria sido legal...

5 comments:

  1. Testemunhas, rs... pra quem gosta de viver perigosamente. Pura emoção!

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  2. Ainda bem que eu tô sentada , caso contrário teria caído durinha de ver a cara de pau do cabra perguntando se iria ganhar. .

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  3. Ser advogada é divertido vai... hahahahahahaha... Quando é que você passaria por isso se nao fosse advogada??? hahahahahahhaha
    Eu imagino o "prazer" da juíza em perceber que estava ali, sendo feita de besta por uma besta que não sabia nem o que estava fazendo (nem ali, nem na lanchonete.. se é que um dia esteve la...) hahahahahahah

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  4. Eu sempre sento e converso com as minhas testemunhas. Em alguns casos, eu oriento sobre o que deve ou não ser dito na hora das perguntas. Faço mesmo!

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