Friday, January 18, 2013

Apelidos

Lá pelos idos de 1996, meu pai resolveu me transferir do colégio particular em que eu estudei a primeira série para escola pública que tinha em frente a nossa casa.

Logo no primeiro dia de aula, quando entregaram o livro de português eu dei uma folheada e vi que lá pelo fim do livro tinha um texto sobre o casamento da Emília e do Rabicó. Fiquei morrendo de medo de chegar o dia de estudar esse texto e todo mundo ficar dizendo que eu era a Emília e ia casar com um porco, ou pior, que algum menino da sala era o Rabicó.

Olhaê minha cara animada.
Mas não tive que me preocupar com esse apelido, porque logo me arranjaram um: Santinha. Por que? Só porque eu ficava muda o tempo inteiro, chorava se apagassem o quadro enquanto eu copiava, tirava boas notas e tinha medo de todo mundo.

Santinha? - você deve estar pensando - Desde quando ter apelido de Santinha é problema, é motivo pra se escrever um post no Gaiola? Calma, crianças, a história prossegue...

Na escola em que eu estudava antes, o banheiro até que era limpo. Mesmo assim minha mãe mandava um pano molhado com álcool pra eu limpar tudo antes de usar, acrescentando, é claro, a recomendação de que era pra limpar tudo e mesmo assim não encostar em nada. Minha mãe era uma mãe limpinha, estão vendo?


A nova escola, por outro lado, como todo colégio público que se preze (pelo menos na minha época), tinha telhado colonial de onde caíam ninhos de passarinhos, tinha um quintal de terra vermelha pros alunos se sujarem brincarem na hora do recreio, e tinha também um banheiro escuro e sujo, cheio de frases e desenhos obscenos pelas paredes.
Pacote básico: sujeira, riscos na parede, loira do banheiro...
Como eu morava na frente da escola, no primeiro dia, quando senti vontade de ir ao banheiro, fui até a professora e pedi pra ir ao banheiro - na minha casa, é claro. A professora achou estranho, mas deixou. Encontrei a diretora pelo caminho, que achou estranho também, mas deixou. Cheguei em casa, fui no banheiro, fiz xixi e encontrei minha mãe logo na saída.
Estranhamente, minha mãe é que não gostou de eu ter ido em casa fazer xixi. (OBS: pura implicância dela. Não sei o que tem de problema numa menina de 7 anos ficar andando sozinha pela rua pra ir fazer xixi em casa.) E ela me recomendou que eu não fizesse mais isso. E me disse pra usar o banheiro da escola mesmo, tendo o cuidado de me ensinar novamente a jamais JAMAIS! encostar em nada lá dentro.
Como mãe zelosa que ela era, cuidou de colocar na minha mochila um item indispensável para quem vai ao banheiro fora de casa: uma sacolinha com papel higiênico. Quanto papel higiênico? Um rolo inteiro.
A partir de então, toda vez que eu queria ir ao banheiro eu pegava minha sacolinha - com aquele rolo inteiro de papel dentro, pedia pra professora pra sair e ia, toda faceira.


Acontece que criança tem o espírito ruim de fazer medo.
Logo perceberam que na minha sacola tinha um rolo inteiro de papel e, como todo mundo ia ao banheiro e não usava papel nenhum, me apelidaram de... Cagona.

E foi assim que eu me livrei de ter como primeiro apelido "Emília, a namorada do Rabicó" para ser chamada de "Santinha cagona".

***

Uns tempos atrás, antes do Gaiola, eu recebi um email do meu irmão: "Santinha cagona, achei seu blog. Por que nunca contou pra gente?"
Moral da história: O primeiro apelido a família nunca esquece.

19 comments:

  1. Santinha cagona! uahsuhasuahsu
    Cara, eu acho que isso é coisa de toda mãe! Eu também andava com papel higiênico na bolsa na época da escola pública por motivo óbvios! Na faculdade, que também era pública, também não tinha papel na minha época!!!
    Hoje em dia eu ando com um pacote de leçinhos higiênicos super fófhis!=)

    Sobre sair da escola, mesmo que você morasse em frente, em horário escolar você está sob a tutela da escola. Se vc fosse atropelada, sequestrada ou o que for saindo da escola, seria responsabilidade da sua professora e da sua diretora. Eu não permitiria! Sou má!

    Por fim, a minha memória foi legal comigo. Eu não me lembro de nenhum dos meus apelidos de infância. Mas aqui em casa minha mãe me chama de livinha e meu pai de Olivão!

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    1. Hoje em dia eu fico pensando nisso de que sair sozinha era MUITO perigoso. Era um bairro de periferia, afastado, que vivia tendo notícias de tarados.
      Mas bem que a mamãe podia ter falado que eu nao precisava levar o rolo inteiro pro banheiro, né?

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  2. Olha, eu sei que criança eh um ser cruel... Mas pô estagiaria! Voce pediu! Levar rolo de papel higiênico? Nao dava pra pegar um pedaço, esconder no bolso e ai fazer seu cocozinho sem ninguém saber? =)

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    1. Por isso que eu encaro numa boa, pq eu dei motivos.... kkkkk...

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  3. Putz... nem me fale de apelidos. Meu primeiro apelido de família foi Batata! hahahahahahahaha

    Que ódio. Depois veio Caju (eu tinha cabelo pintado de vermelho), depois veio Branca, depois veio Muchilinha (sim sou uma mala carinhosa hahahaha) enfim...

    Eu nunca esqueço, Bêjo da Cris

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    1. rsrsrs... eu tbm tive muitos apelidos, mas Santinha-cagona foi o mais emblemático.. E eu tinha uma amiga que tinha o apelido de batatinha, mas é pq ela era da corzinha de uma batata hahaha!

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  4. Mas conta ai... ce ia mesmo dar uma cagadinha no banheiro da escola???

    Porque pra levar a desgraça do rolo TODO, só podia precisar muito né não? hahahahahaahah

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    1. Nada de cocô na escola. A única vez que tentei fazer isso na escola me renderia um outro post... acho que já sei sobre que vou escrever semana que vem... kkkk

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  5. To rolando de rir... não sei o que é amis engraçado:
    ( ) vc chorar qdo apagavam a lousa antes de vc copiar tudo
    ( ) vc fazer faxina no banheiro antes de "nao encostar"
    ( ) vc ir pra casa fazer xixi
    ( ) vc levar rolo de papel higiênico prá escola

    todo mundo te chamar de cagona.

    Agora a pergunta que não quer calar: todo mundo fazendo propaganda do gaiola e vc nao conta NEM PRO IRMÃO???

    Tem vergonha da gente, santinha cagona??
    Vaga de estagiária prestes a ficar vaga, to achando aqui com os meus botões...

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    1. Não, menina, isso foi bem antes do Gaiola, quando eu tentava escrever o blog da Garrafinha em segredo... o povo lá em casa anda rolando de rir com o Gaiola!

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  6. Oba!!! Quando ela concluir o estágio já tem até um bom nome! E vai ser fácil fazer um avatar com um rolão de papel higiênico, né? É provável que, depois desse post hilário, só não terá aprovação imediata no estágio se as loucas da gaiola perceberem que a santinha ainda acha que só as crianças tem espírito ruim e sabem ser cruéis. OOOOpppps! Ó, não.... reprovada por tão pouco!!!!

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    1. Ah... eu mereço tal crueldade, afinal, quem manda eu só escrever posts sobre as necessidades fisiológicas?

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  7. Santinha Cagona, rachei de rir!!!
    E das duas uma: ou o estágio vira emprego fixo ou dá demissão por justa causa!!!

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  8. Poxa... o primeiro apelido constrangedor a gente nunca esquece mesmo. Hoje em dia chamam de bullying. Se ja tivessem inventado isso na minha época e que servia de justificativa pra cometer certas atrocidades eu poderia ter passado dessa pra melhor o cara que passou a me chamar de sacuda no colégio. Maldito! Esse eu não levei numa boa não, pq ele era feio, bobo e cara de mamão.
    Eu gosto deveras dos seus textos estagiária. Pode pedir pra ser contratada viu!!

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  9. Nossa, eu já estava tentando decifrar o Final da história.

    Você toda faceira, contando delicadamente, equilibrada e, quando chegou no ápice, eu pensei em tudo, menos nesse apelido fashion.

    Kkk...

    Eu ri muito...

    Um adendo: crianças têm uma mente fora do normal. Não sei onde conseguem tamanha criatividade para colocar apelidos nos coleguinhas.

    Ótimo post.

    Parabéns.

    Beijos

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  10. ahaha morri de rir, nao de vc mas da situação.

    liga nao, o meu apelido na escola era de ratazana e eu nem sei o pq ate hj.

    bjs
    http://rackneves.blogspot.com.br/

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  11. Tô vendo que vão trocar seu nick aqui no Gaiola daqui a pouuqinho... vai vendo....

    Kisu!

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  12. Hahaha.
    Eu não me lembro de nenhum apelido maldito.
    Minha mãe também me fazia carregar um rolo de papel higiênico para a escola. E também não podia encostar em nada. A hora do banheiro era puro malabarismo.

    Bjs.
    Elvira

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