“Sem correr, bem devagar, a felicidade voltou pra mim.
Sem perceber, sem suspeitar, o meu coração deixou você
surgir.
E como o despertar depois de um sonho mau
Eu vi o amor sorrindo em seu olhar.
E a beleza da ternura de sentir você
Chegou sem correr, bem devagar.
Amor velho que se acaba vai correndo pr’outro ninho
Amor novo que começa vem sem pressa, vem mansinho…
Sem correr, bem devagar, a felicidade voltou pra mim.
Sem perceber, sem suspeitar, o meu coração viu você
surgir.
E como o despertar depois de um sonho mau
Eu vi o amor sorrindo em seu olhar.
E a beleza da ternura de sentir você
Chegou sem correr, bem devagar.”
Bem
Devagar
– Gil, na voz de Caetano.
“Eu amei, eu amei, ai de mim, muito mais do que devia
amar.
E chorei, ao sentir que ira sofrer e me desesperar.
Foi então que na minha infinita tristeza aconteceu
você!
Encontrei em você a razão de viver e de amar em paz, e
não sofrer mais.”
Amor em paz
- Vinícius
Foi assim. Bem devagar.
A história da felicidade que vivo hoje só pode ser contada começando
pela história de uma tristeza. E misturada com a história do meu blog. Porque eu comecei a escrever no blog com
duas intenções: primeiro, desabafar, colocar pra fora o que me enchia o
coração; e depois, lá no fundo, eu queria que o ex-marido lesse, já que ele não
me ouvia. Bem, a primeira intenção foi plenamente atingida. Já a segunda… não
funcionou como eu esperava. E depois de ver o casamento de quase vinte anos
virar pó e se transformar em cinzas levadas pelo vento, senti o que
sentiria qualquer mulher que aguentou uma traição, muito sofrimento,
mentiras e um coração muito machucado.
O “tempo de
luto” pela morte do casamento foi vivido antes mesmo da separação formal, e
quando os papéis foram assinados, chegou o “tempo de festa”, ou ao menos o
tempo de não chorar mais. Eu oscilava entre o desejo de um novo amor e o medo
de me envolver emocionalmente com outra pessoa. Ficava com medo de me jogar num
outro relacionamento, e ao mesmo tempo, tinha medo de, como Carolina, ficar
guardando a dor nos olhos tristes, e não ver nem o tempo passar na janela. Medo.
Essa palavra, tão presente, simplesmente desapareceu quando começou a segunda
parte da história.
Nós já nos
conhecíamos há mais de dez anos. Ele cantava no coral em que eu era a regente.
Na época, ele era casado [com uma das minhas colega de trabalho] e eu também.
Nem passava pela cabeça de nenhum dos dois que os casamentos acabariam, e muito
menos que um dia estaríamos juntos. Mas havia, sim, uma afinidade entre nós. De
minha parte, posso dizer que ele era uma pessoa que eu admirava, gostava “de
graça”, educado, gentil, um gentleman,
no sentido da palavra.
(Cau,
no coral, e a “coreografia” de “Pombinha voou, voou)
Um belo dia, (não tão belo, na
verdade) ele disse que iria sair do coral, pois estava viajando muito, faltando
aos ensaios e como a
regente era exigente demais, ficava cobrando a presença, ele achou
melhor deixar de vez. A partir daí nosso contato foi rareando, quando nos
encontrávamos por acaso, pela rua (cidade pequena, sabe como é?) eu perguntava
quando ele ia voltar ao coral, dizia que estava fazendo falta, essas coisas.
Ele respondia que não dava mais, que estava muito atarefado, e ficava só nisso.
Até que em junho
de 2007, no aniversário de Ilhéus, eu escrevi um post sobre a história da cidade,
que foi citado e linkado num blog
de notícias aqui da região, o Pimenta na Muqueca. [O Pimenta teve problemas com o
servidor, e perdeu os arquivos, então não posso linkar o post
específico.] Ele me mandou um e-mail, falando do link elogioso no
Pimenta, que normalmente só “malhava”, e inclusive, nos comentários, nesse dito
cujo post,
foram feitos alguns elogios a mim, e no e-mail ele falou que já tinha avisado
ao “comentarista” que eu era casada. Eu respondi: “Bobo! Estou descasada há
mais de um ano…”
JURO que foi sem qualquer
intenção, mas ele entendeu que eu estava acenando com uma possibilidade… e que
bom que ele entendeu assim! Começou a ler meu blog diariamente,
e não comentava na caixinha de comentários, mas
mandava e-mails, que eu respondia educadamente, sem nem perceber que ele estava
cultivando um interesse “a mais”.
Uma vez eu escrevi sobre o sonho que tinha [ainda tenho] de ter uma
livraria / espaço cultural e ele mandou e-mail dizendo
que tinha o mesmo sonho, quem sabe não seríamos sócios? Bom, aí meu interesse
por ele já era palpável, mas pensando na livraria. E quando nos víamos, eu
cobrava: “Quando vamos conversar sobre a NOSSA livraria?”
E ele dizia que precisávamos marcar um almoço ou jantar pra conversarmos… e
morria aí.
Bem, quase um
ano depois desse nosso “reencontro” pelo blog, e dessa troca de e-mails
mais constante, eu estava numa carência emocional bem grande, e escrevi um post
usando um poema de Luiz Bello, “Os amores que quero… e os que não quero”:
"Não quero mais saber se vais cumprir
Ou renegar,
As promessas que leio em teu olhar.
Também não quero mais compreender
Ou desvendar,
Os segredos que moram em teus silêncios.
Sei que há verbos de amor que conjugamos
Ou calamos
E bravuras de amor que não ousamos.
Mas sei também
que o amor pede firmezaAs promessas que leio em teu olhar.
Também não quero mais compreender
Ou desvendar,
Os segredos que moram em teus silêncios.
Sei que há verbos de amor que conjugamos
Ou calamos
E bravuras de amor que não ousamos.
E clareza
Em todos os tempos e modos que conjuga.
Não quero mais o amor de compromisso
Tão omisso
Nas liberdades que sempre anuncia.
Também não quero o amor instituído
Do marido,
Vítima inerte da monogamia.
Eu quero o amor sinfônico dos grilos,
Que mobilizam orquestras estridentes
Para encantar e amar suas nubentes.
Quero o amor triunfal dos pirilampos
Que iluminam o seu mundo e suas vidas,
Para atrair as suas preferidas.
Eu quero o amor trivial dos namorados
Liberto ou não, secreto, proibido,
Talvez proscrito ou amaldiçoado
Pelas forças que regem, ou que oprimem
As travessuras líricas do homem.
Eu quero amar, como a palavra indica,
Com a mais completa naturalidade.
Eu quero, enfim, viver, inteiramente,
Aquilo que o amor significa. "
E na caixinha de comentários, ele colocou o seguinte:
“Anabel:
O próprio Luiz Bello escreveu outro poema que serve como resposta a este que você tanto gostou.
Veja a seguir:
Confissão
(A Leila Miccolis)
Ansioso e submisso,
Feito as mulheres,
Molhado e umedecido
Depois de ensaboado
E ainda perfumado,
Se assim preferes,
Tudo como gostas,
Tudo como queres,
Do teu ou do meu jeito,
No teu ou no meu leito,
Quero ser teu homem,
Quando quiseres.”
E assinou “Cau”.
Fiquei sem ter nem idéia de quem era “Cau”… até que recebi via e-mail o link de onde ele havia encontrado o
poema-resposta. Hummm… “Mãe, ele tá te dando o maior mole!”, minha filha disse,
quando leu. E confesso que eu gostei.
As coisas não
foram de repente, foram, como falei no início, “bem devagar”. Talvez até mais
devagar do que eu quisesse, e precisei mesmo dar “um empurrãozinho”, saindo do
espaço digital e mandando um cartão de papel (guardado até hoje junto às nossas
preciosidades) pra que o nosso jantar programado finalmente acontecesse.
Só que nesse jantar, num restaurante chique (e eu de bermuda jeans, camiseta e
rasteirinha) depois de muita conversa, as coisas que iam num ritmo bem devagar,
desabrocharam, e como ele disse na hora, “era inevitável”.
E nossa relação ficou “séria” logo de cara. Afinal de contas, nós
dois somos “pessoas sérias”, apesar de muito bem humoradas! O pedido de
casamento aconteceu também no blog.
JURO
que não esperava que fosse assim, pois ele nem comentava os posts… só comentava “ao
vivo” ou via e-mail… mas, enfim, a prova está aqui, e a resposta aqui.
(Nós...
)
Nos descobrimos
semelhantes em muitas coisas e complementares nas diferenças. Mudamos
em algumas coisas, e continuamos dando
de testa em outras. Eu fiquei mais caseira e ele aprendeu a
sair mais e a receber amigos em casa. Estamos morando juntos desde agosto de
2009, eu, ele e meu filhote. O casamento “no papel” foi em fevereiro de 2010, e
a anunciada lua-de-mel em Paris em Maio, considerando um bocado de variantes,
inclusive o clima na Europa.
Os ajustes
dos primeiros seis meses de casados, segundo a Jady, são os mais
complicados, e não vou posar de Cinderela
que encontrou o Príncipe
Encantado. Também não somos Shrek
e Fiona. Somos
Bel e Cau,
pessoas normais lutando para construir nossa
felicidade e provando por A + B que as experiências anteriores, ainda que duras
e cruéis, servem para nos fazer valorizar o presente e aprender com os
erros – nossos e alheios.
Às vezes nos
pegamos pensando no quanto nossa vida mudou, em tão pouco
tempo. E repito aqui: E é uma conexão tão perfeita, que fica difícil imaginar
que houve um tempo em que não éramos "nós".
Tô muito emotiva hoje..um lenço,por favorrrr..que linda história,amei...
ReplyDeleteA internet ajudando o romance, adorei.
ReplyDeletebjs
Jussara
E até eu me emocionando quando li...
ReplyDeleteComo dizer que não existe o destino né...
ReplyDeleteLinda história!!!
bjinhossss
Tive a oportunidade de conhecer um bocado da história de vcs pessoalmente e eu já fiquei super interessada, mas com todas esses detalhes ricos, ficou muito mais linda do que escutei rs.
ReplyDeleteCoisa mais linda essa proposta!
Kisu!