Friday, May 31, 2013

O campeão de saltos e a gata imaginária

Continuando as histórias sobre bichos, falarei sobre meu primeiro cachorro.

Eu ia dizer que foi o primeiro cachorro da família, mas, na verdade, o povo aqui de casa teve uma porção de cachorros antes de eu nascer, e não consigo entender porque eu não me lembro de nenhum deles. 

De modo que esse é o primeiro cachorro de que eu me lembro. Mas ele foi um cachorro memorável, apesar que nem chegou a ter nome.

Foi assim: nós morávamos no fim do mundo e minha avó em Taguatinga, que pra quem não é daqui, é uma espécie de cidade-bairro de Brasília e fica no extremo oposto do DF em relação ao fim do mundo. Vez por outra meu pai colocava a mulher e todos os filhinhos no carro e íamos todos pra lá. Lembro de um dia especial em que na volta ele resolveu passar em outro lugar, para podermos adotar um cachorro. Era no canil público do DF, e eu fui planejando que cachorro fofinho eu iria abraçar e beijar, porque, afinal de contas, pra que servem os cachorros senão pra serem abraçados e beijados? 

Mas o meu pai pensava diferente de mim, e achou por bem adotar um vira lata enorme. Enorme mesmo. E me avisou que ele não era pra eu abraçar e beijar, que ele seria um cão de guarda, que seria bravo e que eu não deveria amansá-lo, senão ele não atacaria quando o ladrão entrasse no nosso quintal. Isso me deixou bastante decepcionada, mas é lógico que eu continuei planejando mentalmente o quanto o abraçaria e beijaria.

O cachorro veio no porta malas do carro e, quando chegamos, recebeu uma vasilha bem grande de comida. Comeu tudo e, quando eu planejava começar a sessão de abraços, ele simplesmente pulou o muro e foi embora. Pulou o muro. E nunca mais apareceu.

Acabo de entender que, em vez de comida, meu pai deu red bull pro cachorro
Aquilo sim me deixou decepcionada. Achei o cachorro muito abusado de comer e partir. E fiquei lá no quintal, brincando sozinha, lamentando a partida do cachorro.

Mais tarde, quando minha mãe apareceu, eu inventei que já que o cachorro tinha ido embora eu tinha uma gata. E fiquei falando falando falando pra ela da minha gata, que era bonita e que estava logo ali. 

Lembro bem que não tinha gata nenhuma. Eu inventei a história, tirei da minha cabeça, era uma forma de me consolar porque o "meu" cachorro tinha ido embora.

Mas eu resolvi mostrá-la pra minha mãe, que não estava ligando muito pra minha conversa. Insisti que ela tinha que ver que era verdade que eu tinha uma gata (e era mentira, eu não tinha gata nenhuma). Puxei-a pela mão até uma moita que tinha no jardim e disse: "aí minha gata!"

Nessa hora, minha mãe mexeu na moita e realmente saiu uma gata correndo lá de baixo. (tenho a impressão que era uma gata da cor da Tesla). Eu fiquei muito satisfeita por mostrar que realmente eu tinha uma gata, mas lembro de ficar impressionada de aquela gata aparecer exatamente na hora em que eu precisei... 

Minha primeira gata me incentivando a ser mentirosa!

Thursday, May 30, 2013

A primeiro balão



Na verdade esse não foi bem o primeiro... acho que do primeiro eu nem me lembro... mas esse foi o mais dolorido, e por isso, o que ficou na lembrança (e serviu de lição).

Eu tinha uma amiga, daquelas que a gente chama de irmã e tudo mais. Sabe aquela pessoa que sabe TU-DO de você? Aquela pessoa com quem você tem assunto sempre, mesmo que tenha passado o dia todo grudado nela? Aquela que sabe o seu pensamento e a sua reação pra cada coisa? Aquela que, se fosse homem, seria o marido ideal? Então, era assim.

Nos conhecemos no primeiro ano do colegial técnico e ficamos amigas inseparáveis. Eu fui pra uma faculdade (Unicamp, salve!), ela foi pra outra (Uninove... ou como diria um amigo meu: Uni-nine). Um dia ela arrumou um namorado e encasquetou que ia casar com o coitado. Mas como todos nós sabemos, relacionamentos as vezes são complicados, e eles brigaram. Sei que no meio disso eles já estavam pagando o apartamento e ela recebia o salário na conta dele. Mas como estavam brigados, eu ofereci minha conta pra ela ir usando, pra poder receber o salário e pagar as contas dela.

Dai você me pergunta: Mas porque causa, motivo, razão ou circunstância essa nega não usava a conta dela?
E eu te responto: Porque ela estava DEVENDO lá.

Dai você me pergunta de novo: Você é louca???
E eu te responto, de novo: Não! Eu sou ESTÚPIDA!

Voltando... sei que eu emprestei a conta, a senha e tudo mais que ela precisava pra ficar movimentando o salário dela em paz. E esqueci da vida. Afinal, uma irmã não ia fazer nada de mal pra mim.

O tempo passou, eles ficaram de bem, casaram, eu fui madrinha (e dei uma cama box de presente de casamento pra eles)... até que um dia eu precisei alugar uma casa. E qual não foi a minha surpresa quando descobri que meu nome tinha "uma restrição". Restrição. Nome mais bonitinho pra te chamar de caloteira.

Pensei em um milhão de coisas e não vinha nada na minha cabeça que eu estivesse devendo. Até que descobri que era uma restrição no banco onde eu tinha a conta que a amigona estava usando. Pedi pra ela dar uma olhada no que tinha acontecido e ela disse que já não usava a conta mas ia ver. No outro dia me falou que tinha um debito lá mas que ela já tinha acertado. Só que meu nome não ficou limpo e eu falei com ela de novo. Ela falou que ia ver de novo. E assim foram algumas vezes (talvez umas quatro), até que eu emputeci e fui no banco saber o que estava acontecendo.

A gerente me falou que havia um débito de 35 x R$ 1.500,00 que só foi paga a primeira parcela.



Meu sangue sumiu do corpo. Liguei pra amigona e perguntei o que foi que ela tinha feito. E ela falou que não sabia. Fui com ela no banco, a gerente falou do débito e ela ficou com cara de rolha. Falei que ela precisava dar um jeito naquilo porque eu queria fechar a conta.

Essa menina me enrolou por três meses dizendo que ia pedir empréstimo pro irmão, que ia fazer isso e aquilo. Só que não fazia. Resolvi ligar pro irmão e perguntar se era verdade. Ele não sabia de nada. Eu contei a história toda e dias depois consegui fazer um acordo no banco e diminuir a divida pra 16 mil. O irmão dela (que ficou assutado com a história) conseguiu pegar 14,5 mil pra pagar a divida, e os 1,5 mil faltantes eu completei (com ajuda do meu ex chefe) e quitei a dívida.

Ela disse que não conseguiria pagar esses 1,5 mil de volta porque já estaria com o salário todo comprometido pagando o empréstimo que o irmão tinha feito para ajudá-la. Dois meses depois um amigo em comum me contou que ela estava espalhando pros quatro cantos do mundo que ia comprar outro apartamento porque o dela era muito pequeno.

Liguei pro pai dela (que sempre me tratou muito bem, a ponto de me chamar de "a filha branca" que ele tinha) e contei tudo o que tinha acontecido (muito educadamente, é claro) e ele ficou muito bravo. Pediu mil desculpas, sem necessidade porque eu sei que a culpa em momento nenhum foi dele, e no outro dia os 1,5 mil estavam na minha conta.

E foi assim que eu aprendi, a duras penas, que não se deve misturar amizade com dinheiro.

Como disse meu ex-chefe: "Se você emprestar dinheiro, você vai ficar sem o dinheiro e sem o amigo. Então não empreste e fique só sem o amigo".

Nunca ouvi palavras mais sábias!!! E esse foi o primeiro balão de responsa que eu levei.

Anos depois ela tentou contato comigo de novo... obviamente eu ignorei, né! Vai que ela estava precisando de mais uma conta emprestada...

To com uns cartões de crédito aqui sobrando... alguém quer?

Bjinhosssssss

Wednesday, May 29, 2013

Tela azul

A Ira cometeu um erro fatal (existir) e sera fechada para balanco...

Semana que vem eu volto... Prometo que volto...


Sunday, May 26, 2013

Salvas pelo gongo



Eu não leio resenha de livro. Nem sinopse de filmes. Gosto do nome, da chamada e assito - ou leio.
Na Nova Zelandia eu era sócia de uma locadora de DVDs alternativa. Todo dia eu ia lá buscar filmes que não estavam no circuito comercial.
Assisti filmes maravilhosos, documentários interessantíssimos, passei noites em claro aprendendo sobre um monte de coisas que eu nem julgava existir - de trafico de drogas a peixes em extinção na Africa!
E todos pegos "no escuro".
Até que eu peguei "Grizzly Bear" prá ver com as meninas. 
Essa é uma expressão que é bastante usada na Nova Zelandia, pra se  referir a criança que está brava ou mal humorada. Só podia ser fofo, né?

Graças aos Céus eu falei pro cara da locadora, que sabia que ele não podia me contar nada sobre os DVDS:

- esse eu vou ver com as meninas ( então 8 e 9 anos)
- Com as meninas? Tem certeza?
- Yep.
E pela primeira vez, ele meteu o bedelho:
- Desculpa, mas esse eu vou ter que contar. Esse é um documentário sobre um urso que mata o apresentador do programa. Imagens reais...

E as meninas foram salvas pelo gongo!

Friday, May 24, 2013

Meu primeiro bichinho de estimação

Sempre tivemos bichos aqui em casa. Sempre. Tivemos cachorro, papagaio, jabuti, porco, patos, galinhas, gata clandestina (esse eu conto noutra ocasião), gata imaginária (tbm dá um post!), abelha (mais um)... Mas meu primeiro bichinho de estimação foi... 


Isso mesmo! Uma galinha. E a história é meio trágica, já aviso logo.

A minha maior diversão quando eu era criancinha era sair com meu pai. Ele tinha uma Brasília azul que fez o maior sucesso no tempo dos Mamonas Assassinas, e se eu percebesse que ele se movimentava como quem estava pensando em sair, eu logo pedia pra ir com ele. Às vezes ele deixava, às vezes não... era tipo uma loteria. Eu não sei tudo que ele ia fazer na rua, mas quando saía com ele eu sentia que ele era o homem mais conhecido da cidade, pois cumprimentava todo mundo.

Mas isso não vem ao caso. O caso é que ele sempre saía para ir ao sacolão ou à feira, e lembro de uma das vezes que ele deixou eu ir. Na volta, ele trazia uma galinha viva no carro. Não um pintinho. Uma galinha adulta. E ele me disse que a galinha era pra mim, que era pra ela dormir debaixo da minha cama.

Era uma ideia genial! A galinha ia espantar todos os monstros que ficavam querendo puxar a minha canela a noite, quando eu ia no quarto escuro buscar alguma coisa. Eu já tinha até planejado colocá-la numa caixa de papelão, pra ficar mais quentinho.

Só que, quando chegamos em casa, comecei a perceber uma movimentação estranha para os lados da franguinha. Minha mãe foi lá pra fora com ela, trancou a porta e não me deixou sair. Lembro de ficar olhando pelo vidro canelado da cozinha, tentando entender o que se passava lá fora. 

Eu só lembro até essa parte. É claro que a galinha não era pra mim. Meu pai tava só fazendo piada quando disse que ela era minha, na verdade ela era o jantar. E ele fez o favor de não dizer à minha mãe que tinha feito essa piada... Minha mãe conta que eu aprontei um escândalo porque ela tinha matado minha galinha...

Pra me compensar desse sofrimento, ela comprou dias depois uma porção de pintinhos amarelinhos, que passaram a morar no nosso quintal e que ~ viviam morrendo ~ afogados na vasilha d'água, mas eu não me importava, era divertido brincar com eles mortos também (na verdade eu nem sabia que eles estavam mortos)...

No fim das contas, acabou que a minha primeira galinha ficou comigo pra sempre, como parte de mim.
Eu a comi no jantar... O problema é que no fim das contas ninguém espantou os monstros de debaixo da minha cama e eles estão lá até hoje...

Thursday, May 23, 2013

A primeira operação

Esse é um assunto que deixa todo mundo preocupado.

Quando o médico fala "talvez seja preciso fazer uma cirurgia" a pessoa já treme nas bases.

Comigo foi mais ou menos assim. Eu tinha 19 anos.

Fiz alguns exames de rotina e quando fui levar os resultados pro ginecologista ele virou pra mim e disse "Tem um pequeno nódulo ai no seu peito. Não é nada de mais, mas se você quiser a gente pode tirar".

Fiquei preocupada! Fiquei assustada! Como ia ser? Será que era isso mesmo? Então eu tomei coragem e fiz aquela pergunta básica pro médico:

- Doutor... se eu tirar esse caroço meu peito vai diminuir? Porque se for, deixa ele ai mesmo!

Ele olhou pra minha cara, deu risada e respondeu:

- Não, menina! Não vai diminuir o tamanho do seu peito.

- Então tá certo! Pode marcar.

Afinal, eu pagava caro no meu convênio e tinha que aproveitar!

A operação foi numa sexta, durou 15 minutos, e no final do dia eu já estava em casa. O único incômodo que eu senti foi fome, porque me mandaram ir em jejum pro hospital as cinco da madrugada e minha operação só foi começar as dez da manhã.

E eu estou aqui... com meus dois peitos (igualmente) pequenos.

Silicone.. quem sabe um dia....

Wednesday, May 22, 2013

Voce eh feia

Eu me lembro da primeira vez que alguem disse que eu era feia... Foi no final do terceiro colegial... Nao que não tiveram outras pessoas que pensaram isso antes, mas ate ali ninguém tinha me dito. 

Era ja final do ano e eu estava muito ocupada para passar na universidade, tinha passado o ano todo estudando muito pra isso... Já tinha passado a primeira fase da Unicamp e da Fuvest e agora poucos ainda iam as aulas, já que quase ninguém tinha passado para a segunda fase.  

O meu colégio resolveu juntar o terceiro colegial com o cursinho, já que eramos tao poucos e as aulas seguiram. No dia da primeira prova da segunda fase da Fuvest - prova de português e redação - fomos todos juntos numa van, contratada pela escola, ate a escola em outra cidade fazer a prova.

Eu estava esperando a van chegar quando um menino que fazia cursinho chegou perto de mim e disse: "voce eh feia"

HAHAHAHAHAHA

Eu ri... 

Ele repetiu: "você eh feia! Nao sei do que você esta rindo, isso não eh um elogio" 

Dai eu gargalhei... Gargalhei tanto que ate encheu de lagrimas meus olhos... Ele ficou bem puto e se afastou...

Dentro da van ele ficou falando alto, pra todo mundo, o quanto ele era seletivo com mulher... Que muitas estavam afim dele, mas poucas tinham o privilegio de ficar com ele... E eu ali, pensando nos livros que tinha lido pra prova de literatura e relembrando tudo na minha cabeça, ou seja, preocupadíssima com o rapaz que tinha acabado de me chamar de feia. 

Fizemos a prova e na volta, na mesma van, ele se sentou ao lado de outra garota... Ficou de papo furado com ela, bem na minha frente... E la pelas tantas ele tentou beijá-la... E ela deu um soco na cara dele, não foi um tapa, foi um soco! E ainda disse que "playboyzinho ridículo e feio não tocava nela".

Quando chegamos em nossa cidade e todos desceram ele veio atras de mim e disse: "espero que voce nao tenha dado risada do soco que eu levei... Voce que eh feia"

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Posso com uma coisa dessas?

Sunday, May 19, 2013

Fenix, CHEGUEI!




Essa está sendo de longe a minha mudança mais trabalhosa. Além de chegar num dia e assumir a  casa de sucos que nós compramos no dia seguinte, eu nunca achei que aqui nos USA a coisa fosse ser tão burocrática.
É verdade que tudo acontece rápido - mas é uma papelada, uma trabalheira só.
Mas o que mais anda me preocupando nem é isso.
Desde que eu saí do Brasil, há 14 anos atrás, nós não trancamos a porta da nossa casa ( enm quando saímos nem quando vamos dormir) e deixamos os carros destrancados na rua.
Se ele fica na garagem, a gente já deixa a chave no banco do motorista para não ficar tendo que procura-la na manhã seguinte.
Aqui eu já percebi que a coisa vai ter que ser diferente - e que nem adianta eu querer ser uma fofa imbecil e deixar a porta destrancada, por que se alguma coisa acontecer, o seguro nem vai pagar o prejú.
Em Bahrain o clima é quente prá dedéu e a gasolina é praticamente de graça -e ntão eu sempre deixava o carro ligado com o ar condicionado quando eu tinha que fazer uma coisa ou outra, assim quando eu voltasse pro bichinho, a temperatura estaria agradavel.
Aqui no Arizona a temperatura é tão causticante quanto no Oriente Médio, ams a gasolina não tem nada de barata - e as pessoas ainda tem o mau hábito de roubar as coisas dos outros, portanto lá vou eu ter que me adaptar aos novos parametros...

Pela primeira vez em 14 anos, vou ter que começar a trancar as portas!

Friday, May 17, 2013

Sobre a civilização

Dias atrás eu estava voltando pra casa debaixo do agradável sol das 2h da tarde aqui de Mordor do centro-oeste, quando, ao passar ao lado do estacionamento de um banco, vi uma mulher tentar sair do estacionamento e bater na porta de um carro que estava estacionado do outro lado da rua.
A monstra deu ré no carro com toda a força (não exatamente força dela; favor ignorar a má utilização da expressão) e acertou a traseira de seu carro no carro de um terceiro, que provavelmente estava dentro do banco naquele momento.
Como pessoa civilizada que era, logicamente ela parou seu carro e procurou saber quem era o dono do carro em que bateu, para que pudesse oferecer-se para reparar o dano causado.

Ops... estou me enganando de história. Isso de procurar o dono do veículo que sofreu a batida para se oferecer para reparar o dano aconteceu num conto de fadas que eu estava lendo num outro dia... Nesse dia, a mulher simplesmente manobrou o carro e foi embora, deixando o prejuízo pro otário que não estava lá pra lhe dizer umas boas...

Eu, que não tenho nada que andar resolvendo o problema dos outros, fiz o que? Anotei a placa do carro dela e entreguei pro dono do outro carro, a quem um flanelinha tinha ido chamar desesperadamente.
Sou X-9 mesmo, e daí?
Daí ontem eu e o meu estagiário-namorado fomos lanchar na casa de uma vizinha dele, que tem uma filha que é casada com o chefe do corpo de bombeiros numa cidade da Suíça, e essa senhorinha contava que o rapaz ficou muito assustado ao ver as fotos das casas aqui no Brasil, todas com muros, grades, cercas elétricas... Ele disse que é muito estranho, que parece que todos aqui vivem na prisão.

(Aliás, meu avô, que viveu sempre na roça, quando ficou bem velhinho e passou a morar nas casas dos filhos, certa vez questionou que crime tinha cometido pra precisar viver na prisão. A casa era toda gradeada...)

Essa senhora contou ainda que o genro e a filha dela contaram (ô disse-me-disse do caramba!) que, lá na cidade em que eles vivem, ele estaciona o carro na rua, sai e deixa aberto, com a chave na ignição. E ninguém rouba? Disseram que não. Aliás (adoro essa palavra!), disseram que se começar a chover ou a nevar e o carro estiver aberto, às vezes as pessoas da rua mexem no carro: entram, fecham as janelas e depois vão embora, sem levar o carro.

(Suponho que num lugar onde as pessoas agem assim, um caso como o da batida deve ter como conclusão lógica a que eu li no conto de fadas, né?)

É claro que isso gerou uma longa discussão entre eu e o namorado sobre como a má distribuição de renda e a péssima educação que recebemos em nosso país contribui para o aumento da criminalidade. Falamos ainda sobre como as pessoas aqui não se importam com o próximo, e se preocupam muito mais em cuidar de seu próprio bem estar que em contribuir para que exista de fato uma civilização aqui nesse aglomerado de pessoas que se chama Brasil.

Chegamos, contudo, à conclusão de que ambos temos fé no Brasil, e que com educação, combate à corrupção e justa repartição de riquezas ainda teremos um país bonito de se viver.

Logo após, paramos o carro na porta da padaria, descemos, compramos pão e, quando voltamos, algum сын сука (hahaha! nunca saberão que eu xinguei a pessoa de filho da puta em russo!!!) havia batido na porta do nosso carro e ido embora, sem se oferecer para arcar com o prejuízo...

E é pra isso que a gente tem fé nas pessoas...

Thursday, May 16, 2013

O Retorno de Saturno ou a Ilka



Dizem por ai que ele acontece quando a pessoa completa 28 ou 29 anos. Seria o mesmo que completar 1 ano de idade em Saturno. É quando o planeta está novamente na mesma posição em que estava quando a pessoa nasceu.
Dizem também que dá uma reviravolta na vida da pessoa. Os simpatizantes de astrologia poderiam explicar melhor do que eu, que não acredito muito nisso (mas que dá certo, dá!).

E eu tive o meu!

Em meados de 2008 eu estava formada, trabalhando na área que eu queria, tinha meu carro e estava dividindo apartamento com o namorado da época. Não, eu não era casada. Contrariando todas as pessoas do contra que insistiam em afirmar que eu era. Mas não, EU NÃO ERA CASADA. Apenas me deixei levar pelas situações (coisa que eu NUNCA fiz antes) e acabei por me encontrar nessa situação (assunto pra outro post).

Com exceção do meu trabalho, o resto estava uma bosta. O namorado era louco e ciumento e, pra evitar brigas, eu acabei me afastando de todos os meus amigos. O infeliz perdeu o emprego e decidiu aproveitar o seguro desemprego enquanto eu trabalhava das oito da manhã às dez da noite e, pra acabar de ajudar, o meu carro não funcionava quando estava muito quente e também não funcionava quando estava molhado.

Será que vai chover? Porque se for, é melhor eu ir de ônibus...

E eu não sei até hoje de onde eu tirei isso (provavelmente sinapses em série erradas entre meus neurônios), mas eu achava que relacionamentos eram assim mesmo. Que uma hora ou outra, seja com quem for, eu ia ficar de saco cheio e ia achar tudo uma merda. E já que ia ser tudo uma merda mesmo, então não tinha diferença, podia ficar por lá mesmo.

Talvez a vida seja assim mesmo...

Dai um amigo louco (o melhor deles) me indicou uma psicóloga. E eu fui. O nome dela era Ilka. Era uma mulher de uns 40 e poucos anos, meio gordinha, com cabelos loiros e curtos, com uma voz meio rouca.
Os dias foram passando e meus 28 anos estavam chegando.
Os dias foram passando e eu gostava cada vez mais de falar das coisas com a Ilka.
Até que um dia eu acordei e decidi que não queria mais brincar daquilo. Porque eu nunca tive vocação pra ser “sofrida”, sabe? Sabe aquela pessoa que gosta de ficar se lamentando e se rastejando pelos cantos, perguntando pra Deus porque que tudo de ruim só acontece com ela? Meu, na boa, só acontece coisa ruim com você porque você é um chato/a! E se eu fosse Deus, sacanear-te-ia também!
Nesse dia resolvi ir pra um churrasco na casa de uma amiga, aquela que o sujeito mais odiava na face da Terra (sem ele, óbvio). E enquanto eu estava dirigindo até a casa da menina ele ligou, resmungou, brigou, chorou, pediu pra eu voltar, pediu pra conversar e por fim, numa atitude que eu só posso imaginar que foi desespero, ME AMEAÇOUUUU!!!

Uuuuhhh!!! Que meda!
Ele me ameaçou dizendo que ia ligar pra minha MÃE pra contar o que eu estava fazendo!

Vai falar pra quem???

HAHAHAHAHAHAHA (pausa pra eu poder recuperar o fôlego)



E eu respondi “Liga lá e fala que eu mandei um beijo pra ela... Se nem ela manda em mim, imagina você...”.
E foi nesse dia que tudo mudou. Minha felicidade voltou! Dei muita risada, aproveitei a noite, comi muito churrasco, reencontrei meus amigos (inclusive o amigo louco que indicou a psicóloga) e por fim, voltei pra casa. Em paz com a minha consciência e, principalmente, de bem comigo mesma.

No final desse mesmo ano eu dei um pé na bunda do moleque ciumento, aluguei uma casa pra mim, contei pra mãe dele que ele tava fumando maconha no dia em que fui pegar minha mudança e arrumei outro namorado!

Não sei se foi a Ilka ou se foi o Saturno, mas o mais importante foi ter minha vida de volta.

E foi a primeira e última vez que eu me permiti ficar infeliz. Definitivamente, não vale a pena!

Wednesday, May 15, 2013

A morte

Eu gostaria de dizer que tenho pouca experiencia com a morte, mas não eh verdade. Perdi pessoas importantes durante a minha vida e tenho alguns problemas para lidar com isso, especialmente quando esta relacionado com doenças, ou tragedias... Porque eu me revolto... 

A Sherazade falou sobre dois amigos que morreram, num acidente... E eu me lembrei de uma historia triste... Nesse caso não era alguém próximo, mas ele era tao novo quanto eu e tinha a vida toda pela frente, como eu... 

Ele estudava na minha escola, estava num ano acima do meu... E era lindo... Eu nunca conversei com ele, mas eu lembro dele ser lindo... Dele ter o cabelo muito preto e os tracos perfeitos... Ser quieto e estar sempre rodeado de garotas sorridentes... Como não? Ele era tao lindo... 

Dai um dia eu mudei de escola e fiquei algumas semanas sem ver o menino lindo.. A cidade era pequena, então não me importei muito, a gente sempre encontrava todo mundo, de todas as escolas, aos finais de semana, na avenida principal, onde ficavam todos os bares. 

Eu me lembro que num desses finais de semana o menino lindo estava junto a um amigo meu... Eu fui cumprimentar o amigo e aproveitei para falar "oi" para o menino lindo...  Ele veio e me deu um beijo de "oi", sabe? Quando as bochechas encostam e você faz um barulho de beijos? Pois eh... O menino lindo me deu um "beijo" e quando eu fui fazer o barulho do beijo saiu alguma coisa muito estranha... Eu morri de vergonha e ele não pareceu se importar... Mas eu fiquei me sentindo uma completa idiota, mais do que eu costumava sentir...

Dai, um dia, entrando na sala de aula eu vi que havia uma certa comoção... Estava um silencio estranho.. Eu sentei na minha mesa e o professor me perguntou se eu conhecia o Thiago - o nome do menino lindo era Thiago - da escola X... Todo mundo conhecia, mas eu era da escola dele antes, então pensaram que eu podia ser uma amiga... Eu disse que conhecia muito pouco... E dai ele me contou que ele tinha morrido... Num acidente de carro, no dia anterior - um domingo.

Eu tinha visto ele, no sábado a noite e domingo de madrugada... Com algumas meninas sorridentes... Estávamos no mesmo bar, as 3 da manha, de domingo e ele saiu, com um amigo e as meninas sorridentes... So depois eu fui saber que as meninas sorridentes tinham convencido o menino lindo a ir no carro delas pra outra cidade próxima... E no caminho eles caíram de uma ponte... CAÍRAM DE UMA P-O-N-T-E! A menina que dirigia o carro estava muito bêbada - dizem que também drogada, mas não sei ao certo - e subiu numa ponte em construção, inacabada... Tinham muitos sinais e barragens nessa ponte, mas ela passou por cima de todos... E caiu la de cima... Ela não morreu, ela mal se machucou... O menino lindo ficou tao desfigurado que quando a policia foi ligar para os pais para avisar ligou pros pais errados... Eu nunca entendi como isso foi acontecer... Mas eh verdade... Eles ligaram para os pais de um amigo meu, que não estava em casa naquela hora - era um tempo sem celular - e os pais foram ate o local do acidente, para descobrirem que o filho que eles achavam que tinha perdido não era aquele ali, nas ferragens. 

Lembro de ter ficado em choque por muitos dias... De ter pensado na idiotice de dirigir embriagado... Na dor daqueles pais...

Essa historia me marcou tanto que eu nunca entrei em carro de ninguém que tivesse bebido... Cheguei a dormir na casa de uma amiga, porque o motorista que ia me dar uma carona estava bem bêbado...

Sunday, May 12, 2013

O primeiro amigo que eu perdi

Não sei por que me baixou essa melancolia, essa morbidez, mas eu me lembrei da primeira vez que eu me deparei com a perda de um amigo.
Eu tinha 17 anos e morava num condomínio cheio de gente da minha idade. Dois amigos meus foram de carro buscar um terceiro amigo que estava trabalhando, o carro bateu e dois dos meninos faleceram. Só o motorista sobreviveu.
Foi horrível, uma tragédia sem tamanho.
O Alessandro é aquele menino da história da pedrada que eu conto aqui, e uma semana antes do acidente, ele veio á minha casa, se sentou na sala comigo e com a minha mãe e disse que andava tendo umas idéias de girico, que tinha contemplado até suícidio, mas não sabia explicar o por que, já que tudo estava indo bem na vida dele.
Uma semana depois ele estava morto, num acidente onde nem ele nem os amigos foram culpados...

A outravítima vem de uma longa história de tragédias familiares. Ele nasceu com lábio leporino, coisa facil de consertar, mesmo naquela época. O irmão caçula, foi "esquecido" na incubadora e ficou cego ainda recém nascido. O Emerson faleceu nesse acidente, e o irmão que perdeu a visão, virou locutor de rádio numa cidadezinha pequena, ficou famoso, se casou e teve um moleque lindo, a quem ele deu o nome de Emerson, em homenagem ao irmão falecido.

O Emerson sobrinho, aos 7 anos teve um tumor no cérebro. e eu passei anos me perguntando por que essa mãe teve que lidar com tantas tragédias acumuladas, por que "tudo acontecia com ela"...

Post mais deprimente esse, né? Desculpem!! Mas eu acordei me lembrando da sensação que eu tive a caminho do velório dos meninos.

Eu olhava os onibus cheios de gente e pensava: tudo continua igualzinho, mas eles não existem mais! Eles nunca mais vão ver um passarinho cantar, não vão namorar, nem brigar com a mãe, eles não vão para a escola, não vão comprar o primeiro carro, não vão mais nada... mas o mundo continua exatamente como sempre foi. nada parou, nada mudou.

A única coisa que nunca mais vai ser a mesma, é a vida desses pais, que todos os dias vão lamentar a perda desses meninos....



Saturday, May 11, 2013

Blogueiro Convidado - David

Não sei como o David demorou tanto prá cair aqui na gaiola. Acho que devia estar em camisa de força em algum outro lugar por ai...
O cara tem histórias do tempo do "Zagaia"prá contar,e  a coisa nunca é das mais normais.
Ele traz na mochila a mãe mais fofa do mundo, que só aguenta as traquinagens dele por que é daquelas mães boazinhas, e não deve saber dar porrada em marmanjo ( mas que ele já mereceu muito tabefe, isso ele mereceu...). Tem também três filhos, que são uns fofos e devem morrer de vergonha orgulho das presepadas do pai, uma ex mulher, a Jane, que está sempre por perto e o atual marido, que com certeza vai ser canonizado em breve.
No meio dessa miscelânia toda, ele mantém o Era Uma Vez, onde ele conta histórias do arco da velha e faz todo mundo se matar de rir...
Quando eu o convidei para vir aqui, pedi pra ele contar da sua primeira vez, e o danado foi logo pensando besteiras. Foi um custo convence-lo a manter o texto apropriado para menores, mas ele jura que o próximo vai ser tarja preta! Oremos...

Com vocês, David, meu amigo que até hoje não aprendeu a escrever o meu nome querido!! Bora nos divertir...


Primeiro dia na escola ou Um alien na gaiola de micos
Em 1970 entrei no pré, isso, pré-primário, não faço ideia como se chama isso hoje.
Naquela época o mundo não era preto e branco como as pessoas veem nas fotos, existia cor e as cores eram iguais as de agora, só que as maquinas fotográficas ou não tinham cor ou já saiam desbotadas (que os descolados de hoje insistem e imitar).
Mas vamos a minha historinha.
Dona Lourdes me levou para a escola, primeiro dia de aula do David.
Fui colocado para dentro dos portões de um grande colégio de freiras, eu então, na época estava com 5 anos e meio ( faria 6 no meio do ano), fui indagado por alguém, (não lembro ou nem sei quem, caray eu era pequeno pra caramba) pra que ano eu ia.
No meu raciocínio lógico de 5 anos disse 1º, ou qualquer coisa parecida com isso, pois eu estava aterrorizado com o fato de estar sozinho no meio de tanta gente estranha, afinal era A PRIMEIRA VEZ que estava chegando na escola. Só sei que fui parar em uma classe onde havia crianças muito mais velhas que eu (7 anos) e fui ficando por lá, achando tudo estranho como deve se achar na sua PRIMEIRA VEZ, até que apareceu uma freira esbaforida procurando um aluno perdido do pré, claro que esse aluno era eu. Pronto! Já estava feito meu primeiro mico, 1 hora de escola e eu já tinha ido parar em outra classe de um outro ano e tinha sido classificado como aluno desaparecido.
A irmã X me levou para a classe certa, onde a minha professora Dona Sílvia me esperava ( que mané Tia Sílvia! naquela época a gente não tinha o hábito e nem podia chamar a professora por outro nome que não fosse Dona ), fui colocado na primeira carteira encostada a porta. Todo mundo me olhava como um alien e eu me sentia exatamente um alien.
Chegou a hora do recreio, pelo menos naqueles primeiros dias, não podíamos sair, ficávamos dentro da classe, nossa professora deu uma saída e eu o alien, fui abrir minha lancheira e ploft! derrubei todo meu leite com achocolatado no chão! Meu botão de pânico ligou no modo máximo. Os outros alunos que também sofriam de pavor, acho que tínhamos medo de tudo e olha que Dona Sílvia era uma moça de uns 18 anos e super fofa, mas na nossa cabeça ela podia tirar uma arma e matar a todos nós. Uns ficaram na porta controlando a chegada da professora, enquanto eu limpava o chão com minha bunda, isso mesmo, eu sentei no chão e comecei a limpar com minha bunda.
A professora chegou, claro que viu a poça de achocolatado mal limpa, bem na porta da sala, perguntou o que acontecera, todo mundo contou, mas ninguém contou com o intuito de me dedurar, mas sim com pânico de algo como: "não faça nada com ele, foi sem querer". Dona Sílvia, deve ter achado engraçado, eu limpar com a bunda, mas ficou na dela e pediu para que alguém da limpeza desse um jeito.
Duas horas e meia de aula e eu já tinha passado 2 fabulosos micos, eu seria um grande aluno na minha vida.
Mas não acabou.
Dona Sílvia deu um desenho mimeografado para colorirmos, lembro bem, pois trauma a gente grava a ferro e fogo, era uma floresta que tinha um leão e um elefante. Falou para colorirmos e de novo saiu da sala ( pensando bem, Dona Sílvia gostava de passear fora da classe). Comecei a colorir meu desenho, acho que depois do que já passara, as meninas da minha classe resolveram prestar atenção no que o alien fazia, ainda bem, porque este alien que vos escreve, pra quem não sabe, é daltônico e na época não fazia ideia do que seria daltônico, mas resolveu pintar o leão do que supostamente seria a cor de leão, verde, pintei meu leão de verde e meu elefante de Rosa, as meninas que estavam de plantão, viram e entraram em pânico, pegaram meu desenho e trocaram por outro sem pintar, que a professora deixara na mesa. Eu comecei a pintar de novo, ai pintei o leão de laranja, nem deu tempo de terminar, que as meninas tiraram de minha mão e me deram o desenho pintado. (resumo da opera, meu trauma de daltônico foi tão grande, que minha família só viera a saber que eu era daltônico quando eu tinha 28 anos e resolvi sair do armário das cores daltônicas). A professora chegou, nada percebeu pegou os desenhos pintados e acho que ficou aliviada ao ver que o pequeno alien não fizera nada estranho.
Minha mãe veio me buscar e não sei como já estava sabendo das minhas peripécias e claro que minha bunda suja de Nescau era visível por toda a escola.
Seis meses depois, na segunda reunião de pais, dona Sílvia vem para minha mãe e diz: -Dona Lourdes, os Russos e os Americanos gastaram tanto com corrida espacial para ver quem chegaria primeiro na lua, o David chegou na lua muito tempo antes que todo mundo, ele vive no mundo da lua!!!
Não era uma fofa a dona Sílvia?



Friday, May 10, 2013

Amiga... da onça

Continuando o causo da semana anterior...

Daí que eu terminei com o pobre menino sem ao menos chegar perto dele. Mas a culpa foi toda dele, que era assanhado demais com aquela história de beijo que ele contou pra um, que contou pro outro, que contou pra outro... que virou o disse-me-disse tamanho M da história da sétima série.

Sim, o disse-me-disse ficou no tamanho médio, porque o disse-me-disse tamanho G ainda estava por vir. 

Estava eu lá curtindo meus primeiros 15 minutos de fama com o danado do disse-me-disse, quando surge um novo caso a ser comentado na turma: a minha "amiga" e o meu admirador-beijoqueiro-à-distância estavam namorando! E não, não era aquela coisa de filme em que a amiga do cara finge estar namorando com ele só pra outra ficar com ciúme. Era sério.
Sempre aparece alguém pra destruir nosso momentinho de glória...
Sim, queridos, o causo de hoje é sobre meu primeiro olhinho furado.
O assunto virou tipo um casos de família: toda hora me aparecia alguém pra perguntar o que eu tinha achado da furada de olho que ela tinha me dado. Eu, que era incapaz de ver o mal nas pessoas, simplesmente dizia que aquilo não tinha nada a ver, que, afinal de contas, já que eu não queria o menino, nada mais justo que alguém querer...


Só que com o tempo vi que as coisas não são simples assim. Mulheres muitas vezes tendem a desrespeitar o Código de Ética sobre Amizades e Relacionamentos. Muitas mulheres querem provar o prato da outra só pra ter o prazer se sentirem capazes disso.

E eu só vim descobrir isso muitos anos mais tarde, depois de me ver outras duas vezes em situações similares: 

A primeira foi no ensino médio. Eu tinha um melhor amigo, muito melhor amigo mesmo. A gente era tão amigo que discutia o dia todo, competia por tudo, e a amizade não acabava. A gente trocava porrada o dia inteiro. Os outros meninos da sala brincavam dizendo que a gente ia casar e eu ia prender ele na coleira pra ele não sair de casa. Era amizade pura e simples (tanto que até hoje somos amigos, só que sem a parte das porradas), ambos tínhamos nossos namorados fora da escola, mas hoje eu sei que não parecia. Todo mundo achava que a gente era apaixonado um pelo outro. 

Daí no meio do ano eu tive de mudar de escola, e que notícia eu tive? Que eu saí na sexta e a minha melhor amiga se declarou pra ele na segunda feira. Entendem? Ele era só meu amigo e se eu soubesse que ela estava a fim teria dado a maior ~A MAIOR~ força. Mas ela achava que eu gostava dele, ficou caladinha na dela e aproveitou a primeira oportunidade em que eu não estava por perto. Me senti traída, porque sei que mesmo se eu gostasse dele ela teria agido desse jeito.

Depois foi outra "melhor amiga" que esperou dois dias depois de eu terminar um namoro de um ano e meio pra poder começar a namorar com o cara. Era namoro de adolescente e nunca me arrependi de ter terminado, nunca quis voltar. Mas dois dias?! Poxa vida, por um tiquinho me joga do ônibus pra sentar no meu lugar...

Resumo: após três "melhores amigas" me darem o bote desse jeito, criei uma resistência terrível para confiar na maioria das mulheres e acho que mereço o primeiro lugar na categoria "maior recebedora de furadas de olho". Favor mandem fundir uma troféu-escultura com o seguinte formato:

E atenção para o sorrisinho sádico do de branco...

Thursday, May 9, 2013

A primeira cera quente


Eu nunca fui muito vaidosa. Até hoje tenho problemas em conseguir combinar roupas (então só uso peças em tons pastéis, preto e branco), não sei me maquiar direito (mesmo depois de ter feito até cursinho de maquiagem - duas vezes - então só passo lápis no olho e máscara de cílios, que em épocas passadas era chamado de rímel) e não ando na moda (desculpe quem não concorda comigo, mas eu acho um ABSURDO uma pessoa usar uma peça de roupa só porque alguém, em algum lugar do mundo, falou que é pra usar aquilo agora. Se mandarem colocar uma porção de cocô na cabeça, você vai colocar? Eu uso coisas que eu acho bonitas, independente de estar na moda ou não. Bom, isso é assunto para outro post...).

E por conta disso eu sempre fiquei meio por fora das conversas femininas, nunca ficava sabendo dos novos cremes para passar no cabelo, das novas técnicas pra tirar as gorduras localizadas, dos novos tipos de cera pra depilação... Eu sempre andei mais com os meninos, e as conversas deles eram muito mais divertidas.

Em um certo dia ensolarado percebi que um novo salão tinha sido inaugurado perto de casa, e colocaram uma faixa bem grande escrito PROMOÇÃO DEPILAÇÃO. Como eu gosto muito de pagar pouco nas coisas (mesmo que isso me cause mais gastos depois, como quando eu resolvi cortar meu cabelo pagando apenas 10 reais... depois eu conto), resolvi ir lá saber o preço.

Não lembro mais quanto era, mas achei barato e resolvi que era o dia certo pra conhecer aquele processo tão usado (e reclamado) pelas minhas (poucas) amigas. Eu realmente não entendia porque elas ficavam reclamando tanto e continuavam fazendo. Eu sobrevivia muito bem com minha gilete... Mas, como estava em promoção eu encarei.

E o processo é todo "íntimo". A pessoa chega lá e tem que tirar parte da roupa (óbvio), a depiladora tenta ser o mais simpática possível e tenta prender sua atenção de todas as formas (principalmente quando você diz que nunca fez aquilo... depois eu percebi que era o mesmo que o farmacêutico fazia quando ia me dar injeção).

Conversamos sobre qualquer coisa enquanto a moça, muito simpática, passava um negócio melado e quente na minha virilha. Nessa hora pensei "nossa.. que quentinho que fic..." AAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIII !!!!!

AI COMO DÓIIIIIII !!!

A maldita puxou aquele troço, quente e melequento que estava grudado na minha pele, de uma vez! Com força e rapidez! E num deu nem tempo de eu dar um murro na cara dela! Durante o resto do processo eu rezei pra desmaiar e não precisar mais sentir aquela dor dos infernos.

Sai de lá mole, andando com as pernas bambas, e jurei nunca mais voltar e realmente não voltei. Depois de uns 7 anos eu tomei coragem e resolvi fazer depilação de novo, achando que eu pudesse ter exagerado da primeira vez. Mas eu realmente não exagerei! E a partir dali eu desisti. Dói de mais e eu num me odeio tanto a ponto de me torturar uma vez por mês. Já basta o sofrimento que a vida causa, num preciso que nenhum mocinha com cara de boazinha arranque meu coração através da pele.

Abençoada seja a minha gilete!


Wednesday, May 8, 2013

Primeiro osso quebrado

Eu so quebrei um osso na vida. A cara eu ja quebrei varias e varias vezes, mas osso? So um, so uma vez.

Foi durante uma festa... Eu nunca fui de beber, mas naquela festa eu estava bem disposta e beber um pouco mais e foi isso o que eu fiz. Me lembro de tudo, sabia o que estava fazendo, mas o equilíbrio não estava o mesmo, nem o limite do ridículo.

Estava voltando a pé pra casa, com algumas amigas do curso de física, quando uma delas sugeriu que apostássemos corrida. Eu topei... Começamos a correr e ela passou na minha frente, eu tropecei nas pernas dela e as duas caíram no chão. Cena linda de lembrar - só que não.

Alguns arranhões... A gente riu... Seguimos nosso caminho....

Quando cheguei em casa meu dedo anular da mão direita latejava. Fui ao banheiro e lavei as mãos - na verdade eu tomei um banho demorado, porque joelhos, cotovelos e outros "los" estavam arranhados e doíam.

Era quase dia, dali a pouco eu ia pra faculdade, pra uma aula que durava o dia TODO! Um tipo de laboratório avançado, que fazíamos em duplas e demorava a eternidade. 

No caminho pra universidade parei no posto de saúde do campus... A enfermeira mal encarada que me atendeu nem me deixou falar. Na sala da emergência tinha um moooonte de estudantes, estrupiados, bêbados e fedidos. Todos vitimas da tal festa. Finalmente a mulher perguntou qual era o meu problema e eu disse que tinha caído no chuveiro (haha.. mentira!)  e que achava que tinha quebrado o dedo. 

Ela olhou a minha mão... Tinham 4 dedos normais e uma berinjela retorcida no meio... Ela perguntou se eu conseguia dobrar a berinjela.. Eu conseguia, pro lado errado, mas conseguia. Dai ela disse: "não ta quebrado não, vai embora daqui"

Cheguei pra tal da aula, encontrei meu parceiro de laboratório todo sujo, com grama no cabelo. Ele tinha caído de bêbado num terreno baldio e dormido la, ao relento...  Estávamos os dois podres, mas nerd e nerd e fizemos a aula como devíamos.

No final do dia a berinjela doía muito, muito, MUITO! Eu liguei pro meu pai, que era meu ponto seguro para questões de matemática, de saúde e de esportes... Descrevi a berinjela e ele berrou comigo: "va fazer um raio-X dessa mao AGORA"

Eu sou menina obediente, eu fui... Pelo convenio... 

E sim, o osso do meu dedo estava quebrado... EHHHHHH!!! 

Mas como ja tinha passado quase 24 horas do ocorrido o processo de calcificação já tinha começado... E no lugar errado, claramente... O medico me disse: "vou ter que quebrar seu dedo de novo, vai doer um pouco, então vou contar ate 3"

1...

2... CRECK! "AAAAAAAAAAAAAAAAAIIIII!!!! Voce disse que ia contar ate três!!! Motherfucker!!!"

Foi super divertido!! So que NUNCA!

E assim foi.. Fiquei com uma tala no dedo por algumas semanas... 

Sunday, May 5, 2013

O primeiro Khon a gente nunca esquece




Minha festa de despedida foi super especial. Teve comida deliciosa, amigos de verdade, discurso que me fez chorar muito e muitos presentes significativos.
Quando a festa acabou, corri abrir todos os presentes.Muitos dos meus amigos me trouxeram lembranças de Bahrain. Chorei ainda mais.
Tinha pinturas locais, portas típicas, livros de fotos de Bahrain, jóias árabes, perfumes locais, insenso árabe... Tinha de tudo um pouco! O ultimo presente que eu abri era um tapete Persa, de pendurar na parede.
Como os meus amigos Russos tinham me feito entrar na vodka, percebi logo que aquilo ali era a minha bebedeira falando mais alto.
Nos cursos de tapete persa que eu fiz em Bahrain, facilmente o identifiquei como um Khon, de seda pura, lindo.
Pura alucinação.
Tomei muita água para tentar evitar a ressaca e sabia que na manhã seguinte o Khon teria desaparecido.
Imagine a minha surpresa quando acordei e o tapete estava lá, todo faceiro, me olhando. Fui vistoria-lo de perto. Já tinha percebido que era mesmo um tapete, mas com certeza eu tinha viajado na maionese e o tapete era só um lindo tapete Bahraini, né?
Nope. O bichinho é um autentico Khon, de seda pura, maravilhoso.
Eu, que já tinha me descabeladod e chorar na noite enterior, fiz outra faxina nos meus canais lacrimais...

O primeiro Khon a gente nunca esquece... nem os amigos que tão generosamente nos presentearam com ele. Quando o pessoal da mudança chegou, eu disse: façam o que vcs quiserem com as coisas, mas "pelamor" tomem um super ultra cuidado com o Khon.

Agora ele está a caminho de Phoenix, devidamente protegido por papel de seda, enroladinho num tubo feito especificamente para protege-lo de qualquer acidente.

Posto fotos quando ele chegar em casa!!!

Saturday, May 4, 2013

Blogueira convidada - Carulhina

Eu não me lembro como descobri o blog da "Carulhina". So sei que nunca mais deixei de aparecer la pra saber das festas, dos carnavais, das quedas na rua, dos arranhões no joelho. 

Ela fala de coisas de uma parte do Brasil que eu (infelizmente) não conheço. Dai vez ou outra eu preciso perguntar sobre qual comida/banda/lugar/pessoa ela esta falando. Eh muito divertido! Hoje ela vai nos contar sobre o comeco de sua vida amorosa... Deleitem-se!

Ira Fermion


A primeira vez que fiz uma cirurgia (e meu primeiro pedido de casamento)

Nunca vou esquecer a primeira vez em que eu fiz uma cirurgia. Primeiro quero esclarecer que não sou a Ângela Bismarck sob o pseudônimo de Carolina Diniz. Sou a Carolina e minha primeira cirurgia foi aos cinco anos. Aos 14, fiz outra, para corrigir meu estrabismo, mas essa é outra história, vamos ao foco do post.
Por ter passado muito tempo sendo a única filha, tudo o que eu fazia, minha mãe achava que era para chamar atenção. Não sei se era bem assim, não lembro. Mas o fato é que, numa belíssima manhã de domingo eu estava brincando numa rede armada na varanda da casa dos meus avós quando de repente comecei a sentir uma dor de barriga. Parei a rede e tentei não me mexer. A dor ficava mais intensa a cada minuto. Mas ficando parada, ela diminuía sensivelmente. Respirei fundo, enfrentei a dor crescente e fui até minha mãe. “Mãe, to com dor de barriga”. “Dor bem onde?”. “Na barriga”. “Dor de ir ao banheiro?”. Não dava para saber que dor era daí minha mãe, que estava amamentando a Magda que sempre foi um bezerro faminto, achou que era manha. “Fica deitadinha que passa”. Aliviou um pouco depois de deitar. Talvez tenha sido a posição, mas foi só eu levantar e tocar o peno chão para a dor voltar com o triplo da força. Eu tinha cinco anos e estava tendo uma crise de apendicite.
Programão: todos para o hospital na manhã de domingo. Às 17 horas eu já estava na mesa de cirurgia. Lembro de alguém ter colocado alguma coisa pra eu inalar. Até outro dia eu jurava que aquilo tinha sido a anestesia, mas minha mãe disse que era um “cheirinho” para eu não me mexer enquanto aplicavam a anestesia. Com essa revelação, fiquei decepcionadíssima com a medicina. Às 21 horas eu não tinha mais apêndice e ganhava uma cicatriz logo abaixo do umbigo.
Passei alguns dias na UTI pediátrica. No meu lado tinha um menino mais velho, com nove anos, que cismou que iria casar comigo quando a gente saísse do hospital. Eu só conseguia achar ele podre de chato e insistente, o que só me dava mais vontade de sair do hospital. “Carol, vou casar contigo, você vai ver!”. “Não vooooooou, eu não queeeerooo. Tu é muito chaaaaaatooooo. Briga com ele, mãe!!!”. No dia em que saí, ele piorou e teve que ser levado para o CTI. Ele estava internado com queimaduras por todo o corpo por ter brincado de matar formigas com álcool. Foi há 20 anos, ainda tenho cicatriz, horror de gente grudenta e certa angústia por não saber se ele conseguiu se recuperar.

Carolina Diniz