Eu sou obrigada a reconhecer que nunca fui uma excelente aluna. (na verdade, sempre fui uma aluna bem mais ou menos). Antes de entrar na faculdade eu era a melhor aluna da sala, mas isso não quer dizer nada, já que eu estudava numa escola pública da periferia onde em 2002 encontraram num diário de classe os registros de um aluno sem nenhuma falta e aprovado com notas excelentes em todos os bimestres do ano. O único problema é que o aluno tinha morrido no segundo bimestre daquele mesmo ano.
Depois que eu entrei na faculdade, passei um bom tempo seguindo o padrão dos estudantes de Direito, ou seja, brincando de estudar.
Quando eu estava no sétimo semestre da faculdade, cheguei à conclusão que se continuasse com aquele estilo de vida acadêmica eu não ia passar na OAB, não ia conseguir emprego nenhum e ia ser mais um número nas estatísticas dos estudantes fracassados. Me desesperei. Comecei a conversar com as pessoas e acabei conseguindo a transferência da minha bolsa para uma das faculdades particulares mais puxadas do DF.
Quando fui transferida, percebi a diferença do nível de estudo que eu tinha para o que exigiam dos alunos ali. Eu, que estava no 8° semestre na antiga faculdade, tive que pegar matérias do 3° semestre e não entendia #$%@ nenhuma do que o professor falava. Eu nem conseguia fazer minha típica cara de "deixa de ser idiota" quando alguém interrompia a aula pra fazer um comentário impertinente. Eu não conseguia diferenciar um comentário pertinente de um comentário idiota, porque eu não conseguia entender nada do que ensinavam ali. Me sentia como um aluno do prezinho na sala da 8ª série.
Pra piorar, havia um terrorismo psicológico enorme sobre uma prova institucional que era aplicada todo fim de semestre. 10 questões sobre cada matéria que se cursava no semestre. 10 questões elaboradas conforme a ementa do curso e não necessariamente sobre a matéria que foi passada no curso do semestre. Se tivesse 20 tópicos pra ver e só desse tempo de ver 8, a prova institucional cobraria os 20. Eu me desesperava 4 meses antes da tal prova.
Eu entrei nessa faculdade na semana do meu aniversário. No dia do meu aniversário, tive minha primeira aula de constitucional. Como presente, um teste surpresa, no qual eu tirei uma nota baixíssima. E quando o professor devolveu os testes, na outra semana, me olhou na cara e disse: "Você não leu o livro de Mauro Capeletti, né mocinha?" Detalhe: o livro do Mauro Capeletti era um livro pequeno, mas muito denso, sendo que todas as citações feitas pelo autor eram em italiano. É óbvio que eu não tinha lido. É óbvio que eu não li esse livro até hoje.
Mas esse primeiro teste surpresa me deu uma coisa que eu nunca tinha sentido até então: medo de não dar conta. Pra manter minha bolsa de estudos eu tinha que passar em 75% das matérias. E nesse semestre eu tinha pegado um tanto de matérias que se eu reprovasse em uma delas já representaria mais que os 25% que eu podia reprovar. Eu nunca tinha tido dificuldade pra passar em nada, mas quando eu fui pra essa faculdade eu passei a sentir muito medo de reprovar e perder a bolsa, e junto com ela os 3,5 anos que eu já tinha feito de faculdade.
Só teve um jeito: enfiar a cara nos livros. Eu peguei o livro indicado pelo professor na biblioteca, um Gilmar Mendes de 1500 páginas, e bora ler feito uma doida. Eu lia em casa, eu lia no trabalho, eu lia sentada no ônibus, eu lia em pé no ônibus, eu lia até andando na rua! É fato que eu não entendia nada do que ele dizia: eu juro! Mas eu lia. E relia. Li um monte de vezes os capítulos que estavam sendo estudados.
Quanto mais eu estudava, menos eu tinha a impressão de estar aprendendo. E pior é que toda vez que eu estava na aula, de repente eu percebia que o professor estava explicando a um tempão e eu não estava ouvindo. Essas coisas iam aumentando o meu desespero, e quanto mais eu me desesperava, mais eu lia.
Chegou o dia da prova. Não lembro direito, só sei que era uma prova enorme, cansativa. Metade de questões de marcar e metade de questões discursivas. Eu sempre fui péssima em questões de marcar, e pela primeira vez eu me importava com isso. Eu me desesperava... mas respondi todas as questões. Fui uma das últimas a sair da sala.
Na quarta seguinte, entrei na sala sem nenhuma vontade de estar ali. Quando entrei, ouvi alguém perguntar ao professor se alguém tinha tirado 10, e ele respondeu que só uma pessoa. Eu nem queria saber. Não queria ver o resultado da prova, que eu tinha certeza que tinha sido um fiasco.
Isso é o que eu chamo de "um Gilmar Mendes" |
Quanto mais eu estudava, menos eu tinha a impressão de estar aprendendo. E pior é que toda vez que eu estava na aula, de repente eu percebia que o professor estava explicando a um tempão e eu não estava ouvindo. Essas coisas iam aumentando o meu desespero, e quanto mais eu me desesperava, mais eu lia.
Chegou o dia da prova. Não lembro direito, só sei que era uma prova enorme, cansativa. Metade de questões de marcar e metade de questões discursivas. Eu sempre fui péssima em questões de marcar, e pela primeira vez eu me importava com isso. Eu me desesperava... mas respondi todas as questões. Fui uma das últimas a sair da sala.
Na quarta seguinte, entrei na sala sem nenhuma vontade de estar ali. Quando entrei, ouvi alguém perguntar ao professor se alguém tinha tirado 10, e ele respondeu que só uma pessoa. Eu nem queria saber. Não queria ver o resultado da prova, que eu tinha certeza que tinha sido um fiasco.
A aula passou enorme, como sempre. O professor deixou pra entregar as provas no último minuto. Eu fiquei sentada na cadeira ouvindo o falatório de todo mundo, e não conhecia ninguém com quem falar. Então só me restava ficar sentada nervosa, pensando em como eu ia fazer pra recuperar da nota baixa que eu ia receber naquele momento, e em que possíveis novas carreiras eu poderia me aventurar quando perdesse aquela bolsa de estudos. Enfim, o professor chamou meu nome e peguei a prova sem qualquer entusiasmo.
Quando olhei a nota: 10. Juro que senti literalmente o que é quase cair pra trás! Eu não acreditava. Tanto não acreditava que não tive coragem de dizer nada. Simplesmente peguei minha bolsa e saí. Fiquei morrendo de medo de dizer alguma coisa e ele ver que tinha errado na correção, ou no lançamento da nota, na soma... Tive medo de perguntar alguma coisa e receber um: "Ahá!!! pegadinha do malandro!"
Eu já tinha tirado 10 outras vezes antes dessa. Mas essa foi a primeira vez que me orgulhei do meu dez! O dez mais suado da minha vida!
Quem precisa de queixo, afinal?! |
Eu já tinha tirado 10 outras vezes antes dessa. Mas essa foi a primeira vez que me orgulhei do meu dez! O dez mais suado da minha vida!
Êêêê!!! Parabéns pelos eu 10 e pelo ralo que vc deu para consegui-lo.
ReplyDeleteVem aqui em casa dar palestra inspiradora? tenho duas adolescentes precisando de motivação!!
HAHAHAHAHAHAHAHAH "Pegadinha do Malandro!!" É OSSO EIN!!!!
ReplyDeleteÉ muito bom quando a gente tem nosso esforço dando frutos, né não?
E olha ai você já arrumando uns bicos de palestrante!!! heehhehee
Parabéns pelo 10 que você mereceu! E sei que outras conquistas virão por ai... estou na torcida!
bjoksssss
Que legal! Adorei a história. Me fez bem. Tava precisando de algo assim hoje!
ReplyDeleteParabéns!!!!
nossa, parabens, vc tem que se orgulhar mesmo.
ReplyDeleteTem uma promoção rolando lá no blog, participe ;)
http://rackneves.blogspot.com.br/search/label/SORTEIO?&max-results=5
bjs
@RaCk__
http://rackneves.blogspot.com.br/
Puxa,parabéns,adorei o post...fiquei tentando me lembrar qdo.foi a última vez que tirei 10 em alguma prova...sabe que não consigo me lembrar? (vergonha própria e alheia: será que tirei algum???)
ReplyDelete:))))
"encontraram num diário de classe os registros de um aluno sem nenhuma falta e aprovado com notas excelentes em todos os bimestres do ano. O único problema é que o aluno tinha morrido no segundo bimestre daquele mesmo ano." - primeiro caso de fantasma super dotado-nerd! Eike orgulho
ReplyDeleteE PARABÉNS pela nota 10!!!!! Aposto que foi a primeira de muitas. =)
Oi lindinha. Eu também passei por situações parecidas na faculdade e realmente é muito compensador!
ReplyDeletePor falar nisso, eu também não lí o Capeletti!
E Gilmar Mendes é o maior constitucionalista da atualidade! A leitura dele só é indicada para alunos que vão tentar concurso público e não na graduação, porque exige um certo conhecimento e maturidade no direito.
Parabéns!
Beijos
Êeeeeeee!!! Parabéns! Tirar um 10 desse não é mesmo pra muitos... e a fominha por 10 aqui sabe bem qual é a sensação, especialmente quando não se espera!!!
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