Friday, February 15, 2013

Eu e minha boca

Miss Belum, nos contando sobre como já se sentiu um dos seres humanos mais inteligentes da face da Terra por ter sido aprovada no vestibular, e Ira Fermion, nos contando sobre sua primeira grande vergonha, me fizeram lembrar de mim mesma uns vários anos atrás... Essa é a história da primeira grande vergonha desta reles estagiária que vos escreve.


Eu tinha 18 anos. Estava no terceiro semestre da faculdade de Direito, após ter sido aprovada no vestibular pra Matemática. Daí fiz um concurso pra um cargo temporário no IBGE e passei em 3º lugar. Nada disso era grande coisa. Mas, como eu disse, eu tinha apenas 18 anos, e por causa dessas coisas estava me achando a última coca-cola gelada do deserto. Eu me achava a mais inteligente, a mais bonita, a mais esperta, e eu tinha certeza de que a minha opinião era a coisa mais importante do mundo, da qual todos necessitavam, e que por isso eu tinha que dá-la constantemente, mesmo sem ela ter sido pedida. Na minha concepção de adolescente, verdades existiam para serem ditas e eu tinha de dizê-las, não importando se ia doer em alguém. Eu era insuportável.

E foi por causa disso que eu recebi minha primeira lição sobre a importância de ficar calada.

Havia uma revista mensal aqui na cidade que se chamava Orbital. A revista Orbital era uma mistura de revista de adolescente com revista de fofocas, passando por uma seção de propagandas dos comércios locais.
A cada mês, a revista publicava uma seção de fotos de alguma adolescente popular da cidade: a Garota Orbital. Vinham as fotos acompanhadas de uma mini-entrevista com a menina.
A Garota Orbital não costumava ser nenhuma Julia Roberts, e também não costumava ser um gênio. Uma delas até hoje é piada aqui em casa, porque quando foi perguntada sobre o que desejava na vida profissional respondeu: "Desejo me formar em medicina e depois seguir carreira de modelo". (OBS: espero não estar ofendendo ninguém por achar esse sonho uma piada, mas se tiver alguma médica-modelo lendo isso, esclareça como é possível conciliar as duas carreiras.)
Mas as meninas também não eram feias. Se não eram lindas, ao menos não eram da turma do halterofilismo...


Daí uma vez eu tava trabalhando lá no IBGfoi, quando apareceu uma revistinha dessas. Nessa hora, estávamos os 7 funcionários presentes e a toa. E fomos olhar a revista todos ao mesmo tempo. Quando chegou na seção  as fotos da garota orbital daquele mês - que, sendo justa, não era feia - eu resolvi emitir minha inútil opinião. Abri meu bocão pra dizer 20 vezes seguidas: "Noooosssa! Que menina feia! Não sei porque eles só colocam menina feia nessa revista! Ai que menina horrorosa!!!" Ninguém se manifestou. Eu continuei, esperando que alguém concordasse comigo: "É muito feia. Nossa, como é feia... bla bla bla whiskas sachê..."

É sério, gente, a menina nem era feia. Mas ainda que fosse, eu não era olheira de nenhuma agência de modelos pra estar manifestando tão veementemente minha reprovação quanto aos atributos físicos da garota. (Isso sem contar que eu era um dragãozinho...)
Mas eu pensei nisso na hora? Claro que não, e continuei falando que a menina era feia, e todo mundo calado.

De repente, uma moça que trabalhava lá vira pra mim e diz: "Srta Forte, essa menina é a irmã do Paulo." Paulo era um dos colegas presentes. Achei que ela estava de sacanagem. Olhei pro Paulo, implorando que ele dissesse que era mentira. Ele apenas confirmou com uma balançada séria de cabeça. Fiquei lívida. Já sentiu como se seu sangue escorresse todo pelo chão, deixando você paralisado, imóvel, sem ter forças para sair do lugar?

Por que será que eu não morro agora?
Era uma sinuca de bico: eu podia dizer que a menina era feia mesmo, paciência, mas ia ter que encarar o Paulo mais uns 4 meses, lembrando todos os dias de como eu era grosseira; eu podia me dizer que não, que a menina era bonita e eu que estava implicando com ela, que era puro recalque meu, mas nisso seria ridículo - imagine só: num minuto  eu acho a menina feiosa, e um segundo depois ela fica bonita só por ser irmã do meu colega de trabalho?; e eu podia calar minha boca, engolir minha vergonha, e aprender a não ficar chamando a irmã dos outros de feia.
Das opções que eu tinha, acho que escolhi a mais sensata. Se bem que eu não tinha como escolher nenhuma outra; não tinha forças (nem argumentos) pra me justificar. E nada do que eu dissesse ia consertar a merda que eu tinha acabado de fazer. Fechei a revista, calei a boca, e fui me arrastando para minha mesa. A maior vergonha da minha vida estava estampada na minha cara. Fiquei lá, muda, finalmente trabalhando em vez de estar dizendo besteiras inúteis, e assim fiquei por bastante tempo.
Tchau, gente, foi bom trabalhar com vocês.
Vou ali ver se não tem um ônibus que possa me atropelar...
Não sei quanto tempo fiquei lá, muda, imóvel, rezando pra que eu tivesse me tornado invisível, pra que eu pegasse uma gripe galopante e não precisasse voltar lá no outro dia pra encarar aquelas pessoas que sabiam o quanto eu era idiota e que tinham demonstrado aquilo tão claramente.
Séculos se passaram, até que, de repente, a mesma moça que tinha me informado sobre o parentesco do Paulo com a garota orbital me disse: "Srta. Forte, é mentira. Ela não é irmã do Paulo não."

Um alívio imenso - maior que o alívio pós xixi - invadiu minha alma. E naquele momento eu tomei uma decisão que mudou a minha vida: nunca mais dar minha opinião desfavorável no que ela não for estritamente necessária.
Eu não me tornei uma falsa, daquelas que elogia tudo e todos pra ficar bem na fita (jamais ganharia o BBB), mas aprendi que não há necessidade de detonar os outros pelo simples prazer de o fazer. SE, e somente SE, minha opinião desfavorável for pedida, e SE ela for relevante, eu a dou. Caso contrário, bico calado, porque nunca se sabe quem pode ser irmã do Paulo por aí...

13 comments:

  1. Pois é, nunca se sabe quem pode ser irmã do Paulo por ai... hahahahahahahaha
    Porque você não falou "Pô Paulo, acho que você deveria ter aparecido junto como o garoto orbital"...hehehehe
    As vezes a gente tem que passar por certas coisas pra aprender né... e não entrar em frias maiores ainda.
    bjoksssss

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  2. Ai que vergonha, meu... que vergonha!
    Eu ja devo ter feito isso... nao, com certeza eu ja fiz isso.. porq eu tambem adorava dar minha brilhante opinião por ai...

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  3. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK Nunca ri tanto! Que bom que vc aprendeu algo importantíssimo com o ocorrido! :)

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  4. Nossa me identifiquei d+ .... vivo me metendo em situações constrangedoras por conta da minha boca grande, melhor, vivia, pq estou aprendendo a duras penas a segurar minha língua, é um aprendizado diário e nada fácil. Na adolescência eu era insuportável tbm, hj c/ quase 30 estou bem melhorzinha

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  5. Rachei aqui. Nunca tive esses foras galopantes, porém me coloquei no seu lugar, assim que foi identificado o parentesco da tal menina feia. Que sinuca de bico.

    Tem coisas que não dá para guardar. Entendo. A nossa vontade é estrebuchar mesmo. Mas, as consequências podem ser lamentáveis.

    Beijo

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  6. Pôooo!!! Sacanagem da colega que fez essa com você!!! E o Paulo também, hein? Matar os dois, imediatamente!!!

    Brincadeiras à parte, foi uma maneira dura de aprender a humildade. Geralmente só se aprende assim... ;)

    Bjoo

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  7. Bem,eu tô no time daquelas que vc enquadrou como "sonho piada" (o de ser modelo),pq eu não sonhei com isso mas aconteceu por um periodo da minha vida, mas não me formei em Medicina,tb fiz Direito...rsss...Sabe que eu já senti o preconceito das pessoas com essa carreira pq tem muita menina que se intitula "modelo"ou quer ser,a qualquer custo,mesmo sem ter os pré-requisitos necessários (biotipo era um deles)mas hoje ninguém entende mesmo o que o mercado quer pois tem modelo de tudo que é tipo:feia,bonita,esquisita,andrógina,fashion,comercial...affe,mas lendo o que vc escreveu,lembrei do qto.eu tb tinha preconceito com a profissão,sempre tentando mostrar que era diferente das outras,ou seja,que eu era inteligente,que fazia faculdade,que não era fútil nem vazia,etc.e tal...quanta bobagem,eu me formei em Direito e mal cheguei a exercer,resolvi que gostava mesmo dessa área(o sonho piada) e que iria trabalhar....numa agência de modelos!!!(ahahaha,a advogada agora queria ser agente...mas calma,eu não mandava ninguém pra Turquia....:))))
    Gostei muito do teu post e da lição de humildade.Eu tb já tive a minha e hoje respeito muito mais as modelos com as quais trabalho.

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    1. Madi, anos depois me sinto na obrigação de responder ao seu comentário, fui muito relapsa em não respondê-lo antes: não acho que a carreira de modelo é um sonho piada. Eu só achava impossível conciliar as carreiras de médica e modelo, acho que deve ser uma coisa dificílima.

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  8. Olha, eu fiquei constrangida por vc e tb aliviada depois de saber que era mentira. O bom é que vc aprendeu a lição.

    bjs
    @RaCk__
    http://rackneves.blogspot.com.br/

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  9. Olha, eu quis ser médica e atriz! Eu me inspirava na Cininha de Paula e Wolf Maya - médicos e atores - e achava que isso seria possível. Acabei fazendo só Medicina mesmo porque até hoje , como você disse, não acho que isso seja possível ( só pra garota Orbital e eu nunca fui nem Garota do Edifîcio). Não dá pra ir ali ver um paciente e correr pro estúdio pra aparecer na telinha como a protagonista da novela das 8 ( é... eu sei, mas era isso que eu queria!).
    Quanto ao seu fora, posso te dizer com absoluta certeza que já dei vários parecidos. Ainda bem que a gente esquece a MAIORIA, deixando só alguns na memória. "Eu e minha boca GRANDE'!
    P.S.: Amei as imagens, especialmente a primeira. Minha cara, essa moça!

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  10. Li: Eu fico pensando de que tipo de micos eles me livraram me dando essa lição. Melhor aprender com uma piada alheia que com uma vergonha de verdade, né?

    Lu: Pior é que eu acho que se eu puxar pela memória encontro outros micos desse tipo anteriores a esse. Tive que quase morrer de vergonha pra poder aprender a trancar minhas opiniões inúteis dentro da boca...

    Rebeca: Hoje já sou capaz de rir também, mas juro que ainda sinto quase que o mesmo frio na barriga só de lembrar.

    Girassol: Tamos juntas, então, aprendendo a ser gente!

    Turismóloga: Vc deve ter sido uma adolescente educada, discreta e gente boa. Sorte sua, a sensação que tive com meu vexame não foi das melhores...

    Bel: Eu agradeço por ter aprendido a ficar calada com uma brincadeira. Se fosse sério, acho que estaria paralisada de vergonha até hoje...

    Madi: O que eu achei engraçado no sonho da menina foi imaginá-la tentando conciliar as duas carreiras: como alguém exerce a medicina e segue uma carreira de modelo ao mesmo tempo? Tenho pra mim que ambas exigem dedicação intensa, e que se dedicar a uma é se afastar da outra...

    Rack: Também fiquei aliviada quando soube que era mentira, mas até hoje sinto uma fraqueza quando penso naquela situação...

    Cristiane: "Não dá pra ir ali ver um paciente e correr pro estúdio pra aparecer na telinha como a protagonista da novela das 8". Você disse tudo! Imagina uma modelo famosa, fazendo viagens internacionais entre seus plantões semanais. Complicadíssimo pra minha pobre cabeça!
    Quanto às imagens: minhas irmãs detestaram a boca gigante, insistiram pra eu tirar do post, mas eu me mantive firme! Que bom que gostou!

    Beijos meninas!

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  11. E quem nunca, né???
    Você pelo menos deu umas porradas nessa pessoa? hehe

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  12. Lindinha, eu já dei uma gafe parecida.
    O melhor amigo do meu primeiro namorado tinha uma irmã mais nova, a martinha, que vivia atrás dele. Dizia desde pequena que ia casar com ele. Só que isso beirava à inconveniencia ao ponto dela ou a mãe dela ou alguém da família dizer isso comigo ao lado dele. Ficava com a maior cara de bocó!
    Ela foi ficando adolescente e ficava no maior fogo pra cima dele.
    Uma vez, com raiva, desabafei com meus amigos e disse "Toda Marta é piranha!"
    Daí, um amigo meu, chateado, chegou pra mim e disse "Poxa Olívia, minha irmã se chama marta...". Fiquei lívida! Queria sumir! Fiquei dia ssem jeito de me chegar nele...

    Mas ele me apresentou o melhor amigo dele, que meses depois se tornou meu namorado. Meu segundo namorado. Adivinha com quem eu tive problemas????
    Minha generalização foi infeliz! Mas a irmã dele tbm não se salvou!
    beijos

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