A Alê é um daqueles poucos casos em que a amiga vira blogueira, e não o contrário.
Conheci essa figura em Bahrain, no meio do Oriente Médio, entre festas, churrascos, muita cerveja e um mar de abbayas a homens de vestidos brancos.
Ela é toda acadêmica, adora estudar, ler, filosofar. E é louca de pedra na mesma medida. Atriz, cantora (nem que seja só de karaokê) e festeira que não tem outra igual, a menina de vez em quando dá o ar da graça lá no blog que ela criou pra falar da vida nazarábia.
A Um Passo de Pasárgada, ela rasga o verbo e fala do que acha bom, ruim e mais ou menos nessa vidinha de expatriada que todas nós escolhemos viver!
Mas a Ale não vem sozinha - o marido dela é o cara mais engraçado do mundo. que faz piada de todo mundo, a começar por ele mesmo!
Posso dizer sem medo de errar, que boa parte das minhas risadas arabes saiu dessa casa.
Mas deixa de bla bla bla, e vamos ao que interessa. O post da fralda. Ou das fraldas.
A minha primeira fralda geriátrica
“E se eu quiser fazer xixi???”
Essa pergunta me assolou por cerca de dois
meses antes da virada do ano novo de 2012 pra 2013.
Nao, eu nao sofro de incontinencia
urinaria. Nao, eu nao nao sou uma senhora de 90 anos. Sim, o numero dois tambem
passou pela minha cabeca …
Tudo comecou com uma inocente pesquisa no
google. Tickets na mao, apartamento alugado bem no meio do buxixo, era hora de
fazer as malas e buscar dicas nos sites de turismo da Big Apple. Era Natal, era ano novo, e lugar nenhum no
mundo te faz sentir mais festivo do que Nova York com suas luzes, vitrines,
casinhas decoradas, “let it snow” tocando em cada esquina , subway singers
cantando “jingle bells” na capela e depois a bola…Ah, a bola que cairia na
Times Square anunciando o ano novo ao mundo; a bola que seria a causa de uma
das cenas mais engracadas da minha vida. Bendita bola explodindo em fogos de
artificio no ceu. Bendita hoje, quando a gente lembra. So hoje.
Comecei pelo site official do evento “Times
Square Alliance-New year’s Eve”, passando pelo salva-viagens Trip Advisor.
Todos diziam a mesma coisa: “os cubiculos de barricada policial sao fechados
assim que estao cheios, mas nao lotados, para garantir a organizacao da
multidao. Uma vez que voce sair, para o que quer que seja, nao podera mais
voltar.” Ai ja comeca o desespero. Pra quem tem claustrophobia isso e um
suicidio. Eu nao tenho , mas me senti extremamente inclinada a desenvolver tal
transtorno temporariamente como desculpa. “Beba muita agua para evitar
desidratacao pelo frio e leve comida , mas cuidado para nao beber nem comer
demais e ficar com vontade de ir ao banheiro e acabar perdendo o que pode ser
um dos momentos mais emocionantes da sua vida”, dizia um dos sites.
Ao
fim de toda a leitura educativa, compreendi que nao se tratava de uma coisa
simples. Eu podia ate ouvir a voz
interior dizendo : “Segura o xixi…pensa na bexiga…agora ela esta se contraindo,
o xixi sobe, percorre o seu corpo e voce cospe. Pronto. O cuspe representa o xixi que voce ja nao
mais necessita fazer. Agora pensa no reto , o mesmo trajeto…respira fundo e soa
o nariz. Pra que banheiro? Pra que banheiro???”
Sim, pensei, pra que banheiro? Dali em diante percebi que passar o ano novo
na Times Square era tambem um momento de
por em pratica toda a sua concentracao espiritual interior para controlar o
corpo inteiro com o poder do pensamento. Era pra sair dali se sentindo o
kung-fu panda.
Um tanto reticentes quanto a nossa
capacidade de concentracao resolvemos ouvir as vozes da experiencia (algumas
tantas) que sugeriam considerar que a
tecnologia ,no que diz respeito a fraldas geriatricas, tem se desenvolvido
muito nos ultimos anos e que usar
uma no ano novo poderia ser uma excelente opcao. Dia 31 de dezembro de manha
cedo corremos pro mercadinho mais proximo e escolhemos com todo o cuidado uma
fralda que service pra nos dois. Pegamos mais umas coisinhas pra disfarcar na
hora de passar no caixa e voltamos pra casa correndo, rindo ate nao poder mais
nao sei se de vergonha ou de empolgacao.
Segundo sobreviventes , 3 da tarde era o
melhor horario para chegar a Times Square se voce quisesse uma visao boa da bola. Como o
ape era a uma rua da Times Square, pensamos que 3:30pm seria perfeito. Mais
tarde descobrimos que o horario ideal mesmo e chegar la ao meio dia. Ja na
esquina do predio fomos barrados por policiais. Nao podiamos ir para as ruas da
frente, mais perto da bola, e so podiamos seguir em frente na nossa propria rua
se fossemos moradores. O comprovante de aluguel na mao foi o nosso passe pra
avancar uma rua. Uma somente. Fomos parados por uma barricada logo adiante. O
elastico da fralda apertando dentro da calca legging com aquele volume do
design masculino quase me transformando num ladyboy na terra errada me dizia para voltar, mas o coracao queria
ver a tal bola. Ja tinha visto bola
cheia, bola murcha , bola peluda, bola d’agua, bola de gude, bola de tenis, de
boliche, bolas em todos os tamanhos,
formatos e estados fisicos. Mas eu NUNCA tinha visto a bola da Times Square! Tinha que ver, ne? Quantas bolas sera que uma
pessoa precisa ver na vida?
A primeira vez que eu usei uma fralda
geriatrica foi tambem a primeira vez que eu pulei uma barricada policial feito
criminosa, seguida por uma multidao, correndo em direcao a um cubiculo como se
fosse a porta do paraiso se abrindo, com poucas vagas sobrando. Ouviam-se
gritos desesperados de “corre porque se lotar a policia nao deixa mais entrar!”
.
Foi tambem a primeira vez que eu dei valor
a um banquinho dobravel de $1,99 vendido por ambulantes pelo preco que vale uma
perna cansada e uma bunda dormente. Foi
ainda a primeira vez que eu paguei 40 dolares por uma pizza media (20USD da
pizza, 20 da garota que estava do lado de fora da cerca que estava cagando pra bola - e literalmente,
com acesso livre ao banheiro ) e comi no chao,
compartilhando com outras almas esfomeadas. Pareciamos todos um bando de
sem-teto passando frio e fome e tendo que cagar no mato (so que nao tinha mato,
entao a situacao era um pouco pior).
Pensei, por um momento, quantas daquelas
outras 2.987 pessoas dentro do nosso cubiculo estariam tambem usando fraldas.
Olhei ao redor e nao vi ninguem com cara de mijado ou cagado. Sera que adultos
quando usam fralda ficam descarados da mesma forma que quando peidam? Sera que
sao capazes de disfarcar a humilhacao com tamanha maestria?
Apos a 8a contagem regressiva que acontecia de hora em hora,sem ter tido
coragem de testar a fralda, mal podiamos conter a empolgacao de ver a bola
finalmente cair em apenas mais uma hora. Menos ainda a empolgacao de saber que
o banheiro estaria em nos e nos no banheiro em mais ou menos uma hora e meia e que o ano novo chegaria lindo, cheio
de promessas de felicidade, comecando com um xixi tao gostoso e comprido que
seria quase um gozo.
A bola caiu, fogos e confete por todo o
lado comemorando o ano novo- por 10 minutos. So 10 minutos. Depois tudo acaba,
as portas da celas se abrem , os varredores de rua entram em acao e a multidao
vai embora, com a certeza de que o banheiro esta proximo e um sorriso de
felicidade no rosto.
Chegamos em casa depois de andar um
quarteirao cruzando as pernas e corremos pro banheiro. Fui direto pra banheira
e banho enquanto Mauricio, curioso, quis testar a fralda. Em pe de frente pro
vaso sanitario, ele soltou o grito de alivio segurado por 9 horas. O xixi
escorria pelas pernas dele e ele tentando ficar com a perna numa direcao que
atingisse a parte de dentro do vaso. Uma coisa tipo frango assado com a perna
quebrada. Em vao. Banheiro alagado de mijo e a gente rindo sem poder parar. Imagina
se a gente faz xixi la no meio da multidao?
E como fazem os pobres velhinhos que dependem disso? Ficam literalmente
na merda? Acho que nunca rimos tanto. Fomos dormir rindo e comecamos o ano
novo com boas gargalhadas que me dao cocegas ate hoje quando lembro.
Apos toda a loucura daquela Times Square, o
nosso ano novo foi feliz, sim, nao muito por causa da bola brilhante que caiu
do ceu, mas por causa de uma inutil fralda geriatrica.
Nunca pensei nisso, já passei por vários perrengues e nunca pensei numa fralda. Pensando bem não sei se iria usar, além do mais a maioria dos perrengues eram perto do mato!
ReplyDeletebjs
Jussara
Oi Alê. Antes de comentar aqui eu fui lá no seu blog dar uma olhada em tudo e adorei suas histórias e senso de humor!
ReplyDeleteEntão, nunca usei fralda geriátrica, mas sua história me lembrou de uma situação que já contei para as meninas. Uma vez precisei usar uma cinta que parecia presa a vácuo. Como eu demorava muito para tirar tudo, eu optei por usar um modess.
Deu certo! hahahha
Eu ri até não poder mais... li o post pra Marido ouvir e ri até chorar, imaginando se fôssemos nós! Obrigada por fazer minha noite mais feliz, mesmo não sendo ano novo!!!
ReplyDeleteDepende da fralda tem umas boas e outras nao
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