Saturday, April 13, 2013

Blogueira convidada - Cristiane

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A Cristiane, de tão maluca, batizou o próprio blog de To doida na Belíndia.
 Inteligente, descolada e com muita história para contar, ela divide seu cotidiano conosco, de uma forma leve e engraçada!
Você é expatriada? Foi expatriada mas voltou ao Brasil? Tem filhos?
Tenho certeza que você pode se indentificar com ela.


A Inaiê me perguntou se eu queria escrever sobre alguma primeira vez. Na hora disse que sim e que precisa de um tempo, após isso comecei a pensar sobre qual primeira vez eu iria escrever e percebi que não é fácil assim, já que uma primeira vez que para mim foi muito importante, pode não significar nada. Passei todos os dias, desde que ela me perguntou, voltando ao passado, relembrando momentos, revivendo situações até decidir que iria falar sobre a primeira vez que eu fui aos Estados Unidos.
Ok, você irá perguntar: Mas isso é algo importante? Todo mundo viaja né? Tem sempre esta primereira vez, blá, blá, blá.
Eu entendo e explico, esta primeira vez não foi uma viagem normal. Quando fui aos Estados Unidos em Outubro de 2005, fui fazer uma visita de pesquisa de campo. Eu e marido fomos até o Estados de New Jersey para visitar algumas cidades e procurar um imóvel para alugarmos já que iriamos mudar de país e começar uma vida nova, com tudo que ela tem, cultura, comida, hábitos, clima, vida e atitudes. Marido já conhecia tendo em vista que além de ter morado lá, visitava com frequência os clientes e o braço brasileiro da empresa em que ele trabalha é lá e justamento por isso estavámos nos mudando. Ele recebeu o convite de administrar este braço da empresa.
Chegamos lá no começo do outono. Para mim já muito frio, já que no Rio estava fazendo uma média de 30 graus e lá os dias começavam com 10 positivos.
Foram dias exaustivos, de procura, de encontamento, de espanto, de choque, de excitação, de tantas coisas que nem dá para descrever aqui.
Eu achei tudo tão diferente e lindo e feio, tudo ao mesmo tempo. As árvores já estavam sem folhas e eu só conseguia ver tudo morto e marrom por toda parte. 
A comida era bem diferente, sem arroz e feijão, mas tudo bem a gente encarava.
Também era hora de tomar decisões importantes como: Morar ou não perto da comunidade brasileira? Decidimos por não, pois já que iríamos mudar de país gostaríamos de viver como um local e assumir todas as facilidade e principalmente as dificuldades que isto iria gerar, sim porque eu não falava e nem entendia patavinas de inglês e meu espanhol ia até Arriba Muchachos e não passava disso.
Era a primeira vez que eu iria viver em outro lugar sem ser o Rio de Janeiro e eu adoro ver a árvores dar frutas. O que isso sifnifica? Que eu gosto de ficar no mesmo lugar, de plantar uma árvores e esperar 4, 5 ou 6 anos para ela dar frutas, já o marido é um cigano. Viveu em tantos lugares do mundo que para ele não fazia diferença. O marido é um homem do mundo, fala várias linguas, é desprendido de lugares, enquanto eu sou bairrista de raiz.
Foi a primeira vez que fiquei longe da família e amigos que conhecia por tanto tempo, longe daquele círculo de pessoas que são seu suporte, alegrias e tristezas, mas que te fazer ser o que você é.
Também foi a primeira vez que fiquei longe do meu filho que ainda não tinha 2 anos, mas estava tranquila, já que minha mãe havia ficado com ele.
Em 5 dias conseguimos alugar uma casa em um dos subúrbios americanos, sem muro, em uma daquelas ruas lindas e perto do trabalho do marido. Compramos um enxoval básico para o marido. Sim ele já iria ficar na casa nova e eu iria voltar sozinha para começar a preparar nossa mudança de país e de vida. Super responsabilidade ein?
Agora imaginem a gente não conhecer as lojas e ter que correr atrás do básico para o marido sobreviver. Então compramos: um jogo de pratos, um jogo de talheres, um jogo de copos, 2 travesseiros, 2 jogos de lençol, um edredon e uma manta, um colchão e dois jogos de tolhas compreto, inclusive com tapetinho de banheiro. Na semna seguinte o marido comprou um computador, um aparelho de telefone, 1 tv pequena, material de limpeza e 1 mesa com 4 cadeiras e o resto ele iria esperar para quando eu chegasse.
Também seria a primeira vez que o marido iria viver sozinho assim, sem nem a estrutura de uma empregada, coisa que estávamos acostumados no Brasil.
Agora vocês imaginem, depois de 13 anos juntos e com uma vida mais do que estabelecida, iria começar tudo de novo e em um ambiente tão diferente, mas tão diferente que a gente nem imagina o quanto será diferente.
Sabe quando você fica meio anestesiado? sem conseguir compreender o que este tipo de mudança pode trazer à sua vida? 
Também seria a primeira vez que eu iria viajar sozinha de volta para o Brasil.
Ficamos uma semana em New Jersey. Perdi 5 quilos. Voltei com os lábios sangrando por causa do frio, mas cheia de novidades, presentinhos para o filho e energia para tocar o projeto para frente.
Este projeto incluia: Vender todas as nossas coisas da casa, já que seria mais barato comprar tudo novo lá do que pagar uma mudança internacional. Cancelar todas as nossas contas ou transferir para o endereço dos meus pais, endereço este que passaria ser nossa base operacional no Rio. Escolher o as coisas que iriam continuar conosco. Preparar documentação para viagem e também providenciar tudo para nosso cãozinho viajar conosco, exames, autorizações e tudo mais.
Também iríamos ficar mais um menos um mês hospedados na casa dos meus pais até o dia da viagem que seria no final de fevereiro e queríamos comemorar o níver do filho, que iria fazer 2 anos e o meu que iria fazer 36 e decidimos fazer tudo junto e transformar esta festa em um bota fora também, e vou dizer uma coisa - FOI UM SUCESSO. Comemoramos o níver e nos despedimos ao mesmo tempo. Esta festa também foi a primeira festa que fizemos.
Foi um momento emocionante e alegre ao mesmo tempo.
Este primeiro olhar para um país tão acolhedor e que hoje, depois de já ter voltado para o Brasil, posso chamar de casa também. Depois desta primeira vez nos EUA, eu passei a olhar o Brasil de uma forma diferente e em muitas casos com uma certa tristeza. Foi nos Estados Unidos que eu vivenciei muitas coisas que nunca havia esperimentado no Brasil: Ter vizinhos amigos e amigos vizinhos, viver em comunidade, ter um escola pública de excelência, viver com segurança, aprender a fazer um orçamento para casa pq os preços são estáveis, não usar remédio sem controle médico, aprender a gostar do frio e da neve principalmente, casa sem muro, não ter engarrafamento, viver com uma fauna selvagem no meu quintal (cervos, raposas, perus, chipmunks, esquilos, marmotas, coelhos, pássaros diversos e gambás), separar o lixo e ter o recolhimento feito corretamente pela prefeitura, gentileza no trânsito, gentileza nas ruas, admirar a mudança do clima, ver as flores voltando após quase 5 meses de muito frio, ah! tantas coisas e uma coisa que me chamou muito a atenção. 
Depois daquela primeira vez que que fui aos Estados Unidos eu aprendi a enxergar o verde das plantas no inverno, sim, algumas árvores perdem todas as folhas depois de um despir encantador (elas mudam do verde profundo, passando pelo vermelho e laranja fogo e chegando ao marrom profundo), mas outras como os pinheiros e arbustos ficam verdes o ano todo, são árvores e plantas que sobrevivem ao frio intenso, ou seja existe vida em todas as situações e pela primeira vez encherguei o belo dentro do que parecia morto.

4 comments:

  1. Engraçado você comentar essa diferença entre você e seu marido (ele "do mundo" e você de "ver a árvore dar frutos"), porque eu sempre quis ser "do mundo" mas nunca corri atrás disso. Um dia sai de casa pra fazer faculdade e nunca mais voltei. Tudo bem que não sai do país, mas essa possibilidade de morar aqui e ali me agrada.
    Que bom que ele se adapta fácil, isso deve ter ajudado na sua adaptação também.
    É legal quando a gente consegue descobrir a beleza onde antes não enxergávamos, né? Acho que se as pessoas conseguissem fazer isso com coisas simples, elas seriam mais felizes!
    Obrigada por participar do gaiola com esse texto muito bonito!
    bjoksssssss

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  2. Entendo completamente isso... e me vi chegando no Japão.... Foi IGUAL... tudo estranho, diferente, sabia patavinas de japonês (ainda não sei muito), mas aprendi a amar aquele país e todos os dias penso nele de alguma forma.

    Kisu!

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  3. Só digo uma coisa: CORAJOSA!!!!
    Eu sou mezzo-mezzo: Adoro viajar, mas gosto de voltar pra casa.
    Mas todos esses aprendizados mostram (a você e a nós) que enfrentar as dificuldades sempre vale a pena.
    Parabéns!!!

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  4. Oi Cristiane.
    Fiquei espantada com a parte em que disse que perdeu 5 kg em apenas uma senama!!! O.O
    Não deve ter sido nada fácil mesmo!!! Eu teria dificuldades também porque como uma boa carioca, eu boto casaco com 20º c e já fico dizendo que estou com frio!!!
    Mas adorei a descrição da sua experiência! Deve ser muito enriquecedora mesmo e o seu post veio em um momento muito legal, porque nunca pensei em sair do rj antes e recusei propostas bacanas com medo do desafio de viver uma nova experiência longe da minha família. Hoje, embora não pense em sair do país, quero mudar de estado, de clima, de hábitos... e estou me lançando por aí!
    Veremos... =)
    Beijo grande

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