Doutora inFelicity.

Doutora inFelicity

Pessoas tem manias. Faz parte.
Umas manias piores que as outras.
A pior de todas é a mania de ser infeliz.

Pessoas velhas costumam ter mais manias que as novas. Toda regra tem sua exceção.

Pessoas novas conseguem ser manicadas também... são os jovens idosos, está cheio deles por aí, basta prestar atenção. Sabe aquela pessoa que desde o berço já é cheia de toques e não me toques? Que só reclama? Que acha tudo ruim? Que acredita piamente que o mundo inteiro a odeia? Resmunga sem parar. Enfim... uma pessoa que nasceu com o objetivo de vida de estragar o dia dela e de todos ao seu redor?
Outro dia Electra estava numa pequena reunião familiar, petit comitê, quando chegou uma prima, Doutora Felicity. Doutora é toda manicada no lado negro da força. Um imã de corvos e desgraças. Doida de pedra, mas tão doida... que é considerada A doida mor da família, e olha que a família Perrier em nível de insanidade ganha de goleada de qualquer manicômio. 

Voltando à prima e pseudo doutora, que não é doutora porra nenhuma! Ela só se acha doutora... mas concluir o doutorado que é bom, nada. Mil problemas, desculpas e empecilhos. Ser doida não é exatamente um problema... mas doida-chata-deprê e invejosa, não dá pra engolir. Mesmo sendo da família!
A pessoinha sequer é feliz - oh, nominho mal escolhido! - nunca está contente ou satisfeita com nada. Tudo dos outros é melhor. Até a tristeza alheia é melhor que a dela. Sua vida é um drama de terceira categoria, enredo primário e personagens sem graça. Não cansa de repetir pra mãe, para as tias, pras colegas, para todooooooooooooo mundo que queria mesmo era ter um vida igual a de Electra. Um dia chegou ao ponto de confessar que seu sonho mesmo era SER Electra. Sai pra lá urubu agourento! E a rainha do chororô seguia seu curso, entre lamúrias e nuvens negras.
Um belo dia um ser elevado (muito elevado) espiritualmente se apaixonou por Felicity. Tipo assim... deve ser carma, né? O cara estava afim de zerar seus pecados e resolveu encarar a inFelicity como provação terrestre. Ninguém acreditou, nem a própria. E o cavaleiro andante corria atrás, mimava e bajulava aquela poça de mau agouro. Acabou por cativar toda família, que viu nele uma boa oportunidade para se livrar da chata  acabar com aquela maré de má sorte ambulante. Inacreditavelmente a prima se recusava a abrir as portas e o coração para o amor... demorou a aceitar o seu Dom Quixote.  Depois de muito relutar e reclamar e botar defeito e achar ruim... resolveu dar uma chance e namorar o rapaz.
Namorou, noivou e marcou casório em tempo record. Fez-se sol na sua vida e toda família comemorou. Gente feliz não incomoda. Felicity estava radiante - coisa nunca vista antes - e cuidava dos preparativos do grande dia. Até Electra estava ajudando. Mais do que isso, Electra aceitou ser madrinha!
Bem, sabe como é o destino. Lei de Murphy. Carma ruim. Algo lá em cima deu errado, sei lá. Não é que é verdade que o que é bom dura pouco?

Noivo de inFelicity morreu. Morreu! E, como se não bastasse ter morrido. Dor suficiente para qualquer pessoa normal. Ele consegue morrer no dia do casamento, na noite de núpcias. Ataque cardiovascular fulminante. Azar pouco é bobagem. Tem hora que não sei se é pra rir ou chorar. Daí lembro que Felicity está vivinha da silva e choroooooooooooooo.
Toda família está de luto. Sendo bem sincera... 99,9% está no momento discutindo se não seria beeeeeeeeeeeeeeeem melhor se a prima tivesse empacotado. Ninguém presta por aqui mesmo. Abafa o caso. Electra é a que mais se lamenta. Por pouco não empurrou Felicity no caixão, junto com o defunto.
E no caso teve que concordar com a prima viúva, a vida é INJUSTA! Mesmo.
(ficou com peninha? leva pra casa!)