Monday, April 22, 2013

Andar com fé eu vou...

que a fé não costuma faiá. Ô iaiá!

Já disse que tenho uma família meio doida diferente, o que acho normal devido às circunstâncias. Doña Mamily então, sempre foi um ser... meio estranha. Pensa numa mãe que deixa sua pimpolha ir numa festa (eu achava que era uma festa!) aos nove anos, junto com seus coleguinhas de kombi (naquele tempo era kombi mesmo!), na casa do motorista da dita. Seu Zé, figuraça o seu Zé. Mulato cheio de ginga e exxxxpertise carioca de idade indefinida porém avançada. Tinha nove anos, qualquer pessoa com mais de 18 era "velha" pra mim. Imagina um que devia (chutômetro) ter mais de 40, 50, 60... sei lá.  Sei que naquele fim de ano escolar o seu Zé cismou de fazer uma festa pros fedelhos que transportava pra escola.
Nunca entendi o porquê. Afinal a gente só azucrinava ele. Quer dizer os outros só azucrinavam ele... eu era uma santa. Durante todo aquele tempo só me lembro de dois episódios em que estive envolvida. Convenhamos que dois míseros episódios durante um ano escolar inteiro - ida e volta - não é nada. No primeiro foi porque uma turma de lesadas (todas as meninas da kombi menos minhas irmãs, claro) duvidaram que eu tinha virado "mocinha". É tinha nove anos e já tinha menstruado. Uma covardia da vida. Quem mandou ser grandona? O caso é que as chiliquentas patricinhas duvidaram de mim quando confirmei a informação. Não sei como elas ficaram sabendo, mas... Duvidar de mim? Tão me chamando de mentirosa? Voaram penas pela kombi em movimento e o pobre do seu Zé desesperado mandando a gente ficar quieto na avenida movimentada. Foi tenso. Não me lembro se levei bronca em casa.
Da segunda vez a culpa não foi minha. Quer dizer, da primeira vez também não foi. Mas dessa vez NÃO foi mesmo culpa minha. Tinha uma mini perua pink purpurinada que se achava a rainha da beleza da kombi. Nunca liguei porque ela era menor - em idade e em tamanho. Enfim, desde cedo sempre foi boa nisso de ignorar os idiotas ainda que não tivesse conhecimento da incrível tese da antipatia seletiva: não dá pra ser legal com todo mundo. Daí que, do alto dos seus nove anos, Electra - a mocinha, ignorava aquela coisinha loira e abjeta. Mas a irmã de Electra não. Tinha fascinação pela  figura e queria de todo modo ser "amiguinha" dela. Coisa de criancinhas de... oito anos! Elas - irmã de Electra, mini Barbie do mal e outras duas da gang sentavam lá atrás, no lugar das pirralhas. Não sei o que houve, mas rolou barraco. Foram as três pra cima da irmã de Electra... não que ela fosse santa. Não era. Mas três contra uma é injusto e Electra não estava a fim de chegar em casa e ouvir sermão por não cuidar da irmãzinha. Electra pulou para o banco dos fundos e entrou na briga. Voaram mais penas pela kombi em movimento... Dessa vez teve confusão em casa. A mãe da Barbie do mal foi lá reclamar e dizer que a pobre e inocente filhinha dela era cardiaca (cê jura, dona?) e uma menina maior tinha dado uma surra nela. A menina maior era eu, claro. Mas aquilo estava longe de ter sido uma surra... Mesmo porque quando a coisa ia ficar boa... seu Zé estacionou o carro e separou a gente. Pensei que seu Zé fosse infartar naquele dia de tanto que gritou e bufou e ficou vermelho. Já viram negro velho ficar vermelho? Electra já!
Bem, no fim do ano o seu Zé resolveu fazer a tal da festa na casa dele. Apesar de eu acha que ele devia mais é querer ver a gente pelas costas. E a mãe de Electra deixou ela ir junto com a irmã menor e mais duas ou três crianças que tinham mães igualmente  irresponsáveis modernas e ecléticas. A casa do seu Zé era um terreiro de macumba. De verdade! Levamos horas pra chegar lá, em algum lugar depois do depois dos subúrbios da cidade. Estrada de chão, a casa parecia um mini sítio, no primeiro andar era o terreiro. Tô falando sério! e em cima a casa da família mesmo. Nunca tinha ido num terreiro de candomblé - hoje sei que o nome certo é esse - mas na época... a gente achava que era de macumba e pronto. Conhecemos todo mundo, família e amigos do seu Zé. Ajudamos a por a mesa - graaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaandíssima - no quintal. Até roubamos comemos um pouco da pipoca do santo. Achamos que ele(s) não iam ligar... e pipoca é pipoca, oras!  Dançamos samba, pelo menos tentamos dançar... aquela roda era divertida! Aprendemos sobre a religião do seu Zé, que nos ensinou tudinho sobre seus santos e santas, deuses africanos e exús e mais um monte de coisas que se perdeu no imaginário infantil. Depois assistimos a missa mais doida do mundo... pelo menos foi assim que Electra descreveu o que viu. Foi inesquecível viver tudo aquilo, o som dos tambores e atabaques, as pessoas vestidas de santos, o seu Zé fumando charuto... dei bronca nele dizendo que fumar faz mal, rs... os cantos, as danças e tudo o mais me deixaram hipnotizada e durante muito tempo pensei que tudo aquilo era um tipo de contos de fadas e que não era real. Adorei!
No fim do outro ano ele não nos convidou para outra festa. Fui perguntar o porquê e ele disse que os pais das outras crianças não gostaram dele ter feito a missa doida. Fiquei feliz por minha mãe nunca ter posto limites religiosos ou intelectuais em casa. Éramos católicos zoneados segundo ela. Fiz a catequese no ano seguinte e lembro de rir muito de certos dogmas cristãos. Em casa a missa aos domingos era voluntária, tinham livros espíritas por todo canto, uma mãe chegada em esoterismo rosa cruz, um pai ateu, uma avó adventista, e parentes de todas as vertentes religiosas. O mais estranho de tudo para Electra era um tal de bisavô grão duque maçon... ela não entendia exatamente o que era isso e criança pensava se o biso era um tipo de sangue azul de alguma religião diferente.
Mas o mais marcante era a vó - mãe da mãe de Electra - praticamente uma Dona Benta mineira, que dizia sempre que não era possível viver sem fé, que a fé ensina a viver, fosse qual fosse a fé... tinha que ter uma. E que não admitia neta à-toa.... neto ateu tudo bem, mas neta à-toa de jeito maneira! A questão era que ela só tinha netas, kkkkkkkkkkk.




4 comments:

  1. Adorei o "neto ateu tudo bem, mas neta atoa nem pensar"... já que só tenho netas...hahaha

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  2. Oi Elektra, seu post me fez pensar diversas coisas. A primeira delas é que a minha relação com a minha irmã mais nova era muito parecida com a que descreveu no post. Nós sempre fomos muito divergentes nas opiniões, grupos de amigos, gostos... Mas só uma podia falar mal da outra! Se alguém mexesse com uma, automaticamente estaria comprando briga com a outra! E isso é muito legal! Eu interpreto como sinal de união e cumplicidade! =)
    E na época da escola, minha irmã queria muito fazer parte dos grupinhos de meninas e sofreu muito por conta disso. Se dissessem que não eram mais amigas dela, ela chorava por dias! Eu já não ligava muito...
    Sobre a festa do seu zé, ele deveria estar cumprindo uma obrigação ou dando uma festa para as crianças, o que é muito comum no dia das crianças ou de são cosme e damião. Eu não sou muito entendida nisso, mas como tenho amigos que praticam, eles sempre me contam das festas ou da "matança" que precisam fazer para o santo. =)
    Por fim, achei maneiríssimo que sua família desse margem de escolha para as crianças. Na maioria dos casos, os pais tentam doutrinar os filhos segundo a religião que acreditam. O caso da sua família é incomum e muito legal! Parabéns!!!!

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  3. Hahahahaha adorei a teoria da sua avó! Sem netas à-toa!
    Nunca fui num "terreiro de macumba"... mas já andei por outros lugares.
    O importante mesmo é a pessoa se identificar e ter fé! Concordo mais uma vez com sua avó!
    bjoksss

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