Monday, January 14, 2013

A cueca.

Alguns limites não devem podem ser transpostos, como o rio São Francisco. Desde o tempo de dom Pedro I tentam, falam, planejam... e nada feito. Certos limites deveriam ser assim, pensa Electra. Como por exemplo, nas relações pessoais. Ou nas relações pessoa-bichinho de estimação. Mas sempre tem um ousado pronto pra bancar o descobridor dos sete mares e ir além.
Coelho Branco de Electra não tem noção. 
Antes que perguntem, explico: Coelho Branco de Electra não é parente do Pernalonga, mas adora uma piadinha infame e uma brincadeira arriscada. Coelho Branco de Electra é um abusado, só porque pensa ser o preferido. O fato é que seu companheiro de batalha é o preferido e sabe disso. Isso gera problemas, intimidade demais acaba gerando problemas. Apesar de ser a maior fonte de carinho e estabilidade na vida de idas e vindas, vais e voltas de Electra, de vez em quando ele passa perto de ser assado vivo. Ah, como ele usa e abusa das suas prerrogativas coelhísticas... Sabe que ela não resiste ao seus olhos vermelhos, seu pelo macio, sua orelha grande...
Coelho Branco se acha. 
Electra e seu mascote estão curtindo uns dias a sós, coisa rara. Coisa boa. Os dias se sucediam em alegres coelhadas e passeios pela relva. Dias de verão, de sol, noites de festa. Por alguns instantes ela chegou a pensar que a vida era bela. O doce idílio terminou naquela manhã ao ir ao banheiro da suíte do bangalô e encontrar aquilo. Aquilo lá estava no chão, atirado displicentemente entre a pia e um vaso de algum tipo de palmeira tropical. Aquilo era um cueca - usada - do Coelho Branco.
Coelho Branco tem tendências suicidas.
Pensando se tratar de um engano, de uma miragem causada pelo vinho da noite anterior (caiu mal, deu uma baita ressaca dor de cabeça... enfim) ou de tratar-se de um pesadelo acordada, Electra entrou no chuveiro e resolveu ignorar aquilo. São tantos anos de bons serviços prestados, pensou nossa heroína. Uma cueca esquecida no chão não há de abalar seu bom humor. Electra andava muito bem desde que tinha se inscrito - volutoriosamente* - num curso de controle da raiva. Os bombeiros da cidade andavam até pensando em tirar férias, devio ao declínio acentuado do número de emergências. Não seria uma reles cueca de Coelho Branco que iria colocar em risco todo seu esforço. Aquilo deveria ser um teste, chegou por fim a essa conclusão.
Coelho Branco gosta de flertar com o perigo.
Tá certo que apesar do alto grau de fofura o coelho não é exatamente assim... um animal totalmente domesticável. Há algo de irresistível nas campinas verdejantes que não se deixam civilizar completamente. Algo irresitivelmente doce. Electra conhecia a mágica de tirar o coelho da cartola como poucas. Aliás ela gostava dele pelado pelado nu com a mão no bolso au naturel, só com a cartola pra dar um toque de charme, algo meio dandi. Coelho Branco de cartola fazia ela sorrir e por isso ela o mimava.
Coelho Branco é manhooooooso.
Os dias se seguiram e aquilo AQUILO continou ali, no chão azulejado do banheiro. Como quem não quer nada ela observava Coelho Branco lavando as outras peças de roupa. Porque não aquela? Como numa aula de yoga deixava o pensamento passar e o descartava. Electra não irir estragar o paraíso por conta de alguns centímetros de algodão jogados no piso frio. Não mesmo! Se aquilo era um teste ela passaria com louvor, decidiu. Coelho também não falava sobre aquilo e fingia que não via o problema. E assim a brincadeira de faz de conta que não estou vendo a cueca prosseguiu.
Coelho Branco é jogador de truco.
Por debaixo do sorriso Electra se remoía. Em qualquer outra ocasião aquilo lá já teria sido resolvido em meio a discursos feministas, gritos e algum tipo de desafio que envolvesse o tatame. Da última vez deixaram o tatame de lado e escolheram floretes. Tudo devidamente seguido de desculpas de ambas as partes e beijos mil, porque o melhor de qualquer briga é fazer as pazes. O que enlouquecia Electra era o absurdo de continuar vendo aquilo no chão diariamente. O que coelhinho pensava? O que queria? Briga? Confusão? O início de um hecatombe nuclear? Seu desterro imediato para o lixão dos brinquedos usados e abandonados?
Coelho Branco é louco.
No quinto dia  Electra decidiu. Aquilo teria fim. Nada mais de cueca no chão. Mas dessa vez ela pegaria o Coelho Branco de surpresa. Nada de briga, nada de queda de braço, nada de discussão. Fez a única coisa que ele jamais esperaria dela, em toda sua vida. Pegou e lavou, muito bem lavada, diga-se de passagem, aquela coisa. No melhor estilo Amélia que era mulher de verdade...  Até passou a ferro e usou água perfumada! Sorria enquanto relatava o fato à sua terapeuta. Quem sabe assim se livrava daquelas sessões sem fim? Esperava com ansiedade a chegada do seu fofo, queria ver a reação dele.
Coelho Branco sorria de orelha a orelha.
Sim, Coelhinho estava feliz e saltitante, parecia que a páscoa havia chegado mais cedo. Os olhos vermelhos brilhavam como se tivesse vencido sozinho a Guerra dos Tronos. A cueca bem lavada, passada e engomada era só o princípio daquela noite. Nem acreditou quando além do caprichado jantar com direito a bolo de chocolate de sobremesa ganhou de Electra uma massagem no pelo. Coelho Branco adorava massagens. Aquela então, sabia nossa heroína entraria para os anais da história. Havia comprado um creme especialmente para o grande evento. Nunca antes havia sido tão delicada, portava-se como uma gueisha, sem pressa alguma. Não houve economia ou pãoduragem alguma, gastou um tubo inteiro de Veet no seu querido...
Coelho Branco perdeu a fala, dentre outras coisas.


* voluntoriosamente - algo em que a pessoa vai pq foi obrigatoriamente forçada a ser voluntária, sabe como é?

12 comments:

  1. hahahahahahaa

    Coelho branco! hahahahahahahaahaha

    HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAAHHA

    MARAVILOSA voce, Electra! =)

    Agora, desculpa, mas nao pude deixar de imaginar o Coelho branco pelado avec de cartola! hahahahahaha

    E imagina agora? Coelho branco tosado e nu! HAHAHAHAHA

    eu achei que voce ia dizer que tinha coado o cafe dele na cueca... tb ia ser muito bom!

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  2. HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUA
    HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUHA
    HAUHAUAHAUAHUAHAUAHAUAHAUAAHUAHAUAHA

    Num tem nem o que falar mais

    HUAHUAHAUAUAHAUAHAUAHUAHAAHA

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  3. Electra não tem juízo.
    Coelho Branco sobreviveu???
    huahuahuahuahuahuahuahuahuahua

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    1. Até onde sei (Electra não me conta tudo)... Coelho Branco está mais liso que seda pura, mas sobreviveu pra confirmar a história e aprendeu a lição.

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  4. Caceta. E eu ainda tive que procurar o que é Veet, pra entender direito a piada... hehehehe. Muito bom! Não deixo cueca no chão, mas vou dar um jeito de proibir minha mulher de ler esse blog. Just in case...
    bjos com medo
    PS: esse coelho da foto tá parecendo o Donnie Darko

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  5. Caramba, agora entendi porque sou só a estagiária aqui. Ainda estou no nível 1 de maldade! Electra, vc é minha ídola!! kkkkkkkkkkkkkkk

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  6. Nossa!
    E agora? O Coelho Branco está fazendo a lição de casa direitinho?

    Bjs.
    Elvira

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  7. ahahahahahah,tô rindo de besta aqui...e coar café na cueca??? pelamor,parem que já tô às lágrimas...já falei,esse blog novo vai bombar de loucos!!!!

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  8. Você aguentou até o quinto dia!! Preciso fazer este mesmo tratamento contra Raiva que você está fazendo, eu não aguentaria nem até o segundo dia >.<
    :D

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  9. Eu vim aqui olhar o meu comentário e cadê meu comentário?
    Eu li, comentei com as meninas rindo e não disse nada aqui!
    Electra, você é má! E das piores! POrque tem cara de boazinha!
    Não dá pra acreditar!!!!
    HUAHSUASHUASHUAS

    Eu tenho uma prima que o sobrenome do marido dela é coelho. Eu rio sozinha quando o encontro! haushuahuas

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  10. Ge Bolognani, isso é que é "mulher de verdade", rs...rs.
    Bjs
    Manoel

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  11. Minha vida nunca mais será a mesma quando pensar em coelhos brancos!

    Kisu!

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